segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Batido Ouro de Tolo e As Políticas Culturais no DF (Ou a Ausência das Mesmas)



Adeilton Lima  Ator
           Nas últimas semanas, alguns debates circularam em várias mídias, do jornal à internet, não sem passar pelas mesas de alguns botecos, marcando posições de setores da classe artística sobre as políticas públicas e produção cultural aqui no DF. Ânimos acirrados, algumas visões equilibradas, equívocos explícitos, donos da verdade. Viu-se de tudo. Peço licença para tecer algumas observações.
As vozes andam um tanto desafinadas sobre o barro vermelho que ainda nos resta diante da especulação imobiliária, mas também política e cultural que sempre assolou nossa região. Creio que falta um pouco mais de bom senso dos agentes políticos e culturais na análise não apenas do percurso histórico da cultura brasiliense assim como do momento que vivemos no que diz respeito, particularmente, às políticas públicas para a cultura em nossa cidade, ou a eterna ausência das mesmas.
Se durante décadas vivemos sob o fogo cruzado entre PT e PMDB, hoje, deparamo-nos com as brigas internas de grupos e tendências políticas que compõem o PT, sim, aquele ex-partido político com resquícios ideológicos de esquerda cuja identidade se perdeu em alguma esquina ao aceitar a primeira carona...
Da infeliz entrevista do produtor cultural Nilson Rodrigues à resposta um tanto tardia com pinceladas de retórica de um bom orador, como é o caso  do secretário Hamilton Pereira, o que se sobressai mesmo é uma explícita falta de sintonia discursiva por um lado, e uma disputa interna partidária, por outro, em relação à qual  nós, sociedade civil e classe artística, não temos qualquer responsabilidade, mas sofremos suas principais conseqüências, a inércia e a burocracia. O FAC virou ao mesmo tempo refém e pai de todas as mazelas e demandas daquilo que a Secretaria de Cultura não consegue atender com um orçamento próprio e independente. Cansa o discurso metonímico de que a política pública daquela pasta é bancada pelo FAC. Esse discurso é equivocado! A Secretaria de Cultura tem o dever de buscar um orçamento próprio e independente do FAC.
Nem somos um bando de medíocres com o discurso envelhecido, como afirmou Nilson Rodrigues em entrevista ao Correio Braziliense, nem começamos a discutir política cultural ontem, ou tal assunto está sendo recolocado em pauta somente agora com o atual governo, como sugere o Secretário Hamilton Pereira. Do ponto de vista da classe artística, nada começa ou recomeça agora, pois nossa luta sempre foi e será contínua! Mesmo durante os governos Roriz e Arruda, nossas reivindicações, em que pese também nossa histórica desunião, entre os vários seguimentos, sempre estiveram postas, apenas o interlocutor é que vestia outro abadá. O que mudou foi nossa expectativa, pois entendíamos, pelo menos para uma boa parte do segmento cultural, que com o governo Agnelo a facilidade de diálogo seria maior. Porém, democratismo não é democracia, haja vista o paquiderme burocrático no qual se transformaram as ações da Secretaria com trilhões de exigências ou o edital do FAC, que só para o processo seletivo levam-se absurdamente cinco meses. Pouco foi ouvido e encaminhado das sugestões da classe para as mudanças no edital em inúmeras reuniões. Não dá para aceitar que depois de tanta luta para o aumento dos recursos do FAC e a conquista dos 0,3% do orçamento líquido do DF, para inscrever e quiçá aprovar um projeto, tenhamos que escalar o equivalente ao monte Everest, sob o risco de mudanças climáticas e/ou de terríveis avalanches. Ao invés de nos afastarmos da burocracia dos editais das empresas do governo federal, acabamos por nos espelhar neles que aliás obedecem a uma outra lógica pois estão vinculados à Lei Rouanet, sistema Salicweb, etc. Mecanismos que por si necessitam também de revisão e aprimoramento.
Isso tudo somado às disputas internas entre os vários grupos/tendências do PT tem prejudicado e muito o debate político também na cultura. E todos nós saímos desse processo prejudicados e desgastados.
Afinal, quem são esses grupos ou tendências que digladiam internamente no PT e volta e meia dão sinais de movimentação ou confronto como a recente entrevista de Nilson Rodrigues, o edital remendado do aniversário de Brasília, a falta de comunicação da Secretaria de Cultura com a classe, a reeleição do Secretário de Cultura do PT, que tem na conhecida e lamentável figura de Ricardo Moreira, seu representante? Quem trabalha com produção cultural em Brasília conhece bem o perfil profissional do referido cidadão... Mas que disputas são essas das quais nós temos que ser vítimas? Creio que cabe ao PT e à Secretaria de Cultura do DF uma resposta.
                Também não dá mais para aceitar o discurso da herança maldita, pois já houve tempo suficiente da casa ser colocada em ordem. É necessário recolocar na pauta as propostas de campanha elencadas para a cultura, repensar o modelo administrativo e ampliar as parcerias com as outras pastas do governo. Ainda há tempo para que essa gestão mostre algum diferencial e deixe alguma herança que não seja o velho ouro de tolo que já bem conhecemos.

Adeilton Lima
Ator
21-05-2012

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