Adeilton Lima Ator
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Nas últimas semanas, alguns debates
circularam em várias mídias, do jornal à internet, não sem passar pelas mesas
de alguns botecos, marcando posições de setores da classe artística sobre as
políticas públicas e produção cultural aqui no DF. Ânimos acirrados, algumas
visões equilibradas, equívocos explícitos, donos da verdade. Viu-se de tudo.
Peço licença para tecer algumas observações.
As vozes
andam um tanto desafinadas sobre o barro vermelho que ainda nos resta diante da
especulação imobiliária, mas também política e cultural que sempre assolou
nossa região. Creio que falta um pouco mais de bom senso dos agentes políticos
e culturais na análise não apenas do percurso histórico da cultura brasiliense
assim como do momento que vivemos no que diz respeito, particularmente, às
políticas públicas para a cultura em nossa cidade, ou a eterna ausência das
mesmas.
Se durante
décadas vivemos sob o fogo cruzado entre PT e PMDB, hoje, deparamo-nos com as
brigas internas de grupos e tendências políticas que compõem o PT, sim, aquele
ex-partido político com resquícios ideológicos de esquerda cuja identidade se
perdeu em alguma esquina ao aceitar a primeira carona...
Da infeliz
entrevista do produtor cultural Nilson Rodrigues à resposta um tanto tardia com
pinceladas de retórica de um bom orador, como é o caso do secretário Hamilton Pereira, o que se
sobressai mesmo é uma explícita falta de sintonia discursiva por um lado, e uma
disputa interna partidária, por outro, em relação à qual nós, sociedade civil e classe artística, não
temos qualquer responsabilidade, mas sofremos suas principais conseqüências, a
inércia e a burocracia. O FAC virou ao mesmo tempo refém e pai de todas as mazelas
e demandas daquilo que a Secretaria de Cultura não consegue atender com um
orçamento próprio e independente. Cansa o discurso metonímico de que a política
pública daquela pasta é bancada pelo FAC. Esse discurso é equivocado! A
Secretaria de Cultura tem o dever de buscar um orçamento próprio e independente
do FAC.
Nem somos um
bando de medíocres com o discurso envelhecido, como afirmou Nilson Rodrigues em
entrevista ao Correio Braziliense, nem começamos a discutir política cultural
ontem, ou tal assunto está sendo recolocado em pauta somente agora com o atual
governo, como sugere o Secretário Hamilton Pereira. Do ponto de vista da classe
artística, nada começa ou recomeça agora, pois nossa luta sempre foi e será
contínua! Mesmo durante os governos Roriz e Arruda, nossas reivindicações, em
que pese também nossa histórica desunião, entre os vários seguimentos, sempre
estiveram postas, apenas o interlocutor é que vestia outro abadá. O que mudou
foi nossa expectativa, pois entendíamos, pelo menos para uma boa parte do
segmento cultural, que com o governo Agnelo a facilidade de diálogo seria
maior. Porém, democratismo não é democracia, haja vista o paquiderme
burocrático no qual se transformaram as ações da Secretaria com trilhões de
exigências ou o edital do FAC, que só para o processo seletivo levam-se
absurdamente cinco meses. Pouco foi ouvido e encaminhado das sugestões da
classe para as mudanças no edital em inúmeras reuniões. Não dá para aceitar que
depois de tanta luta para o aumento dos recursos do FAC e a conquista dos 0,3%
do orçamento líquido do DF, para inscrever e quiçá aprovar um projeto, tenhamos
que escalar o equivalente ao monte Everest, sob o risco de mudanças climáticas
e/ou de terríveis avalanches. Ao invés de nos afastarmos da burocracia dos
editais das empresas do governo federal, acabamos por nos espelhar neles que
aliás obedecem a uma outra lógica pois estão vinculados à Lei Rouanet, sistema
Salicweb, etc. Mecanismos que por si necessitam também de revisão e
aprimoramento.
Isso tudo
somado às disputas internas entre os vários grupos/tendências do PT tem
prejudicado e muito o debate político também na cultura. E todos nós saímos
desse processo prejudicados e desgastados.
Afinal, quem
são esses grupos ou tendências que digladiam internamente no PT e volta e meia
dão sinais de movimentação ou confronto como a recente entrevista de Nilson
Rodrigues, o edital remendado do aniversário de Brasília, a falta de
comunicação da Secretaria de Cultura com a classe, a reeleição do Secretário de
Cultura do PT, que tem na conhecida e lamentável figura de Ricardo Moreira, seu
representante? Quem trabalha com produção cultural em Brasília conhece bem o
perfil profissional do referido cidadão... Mas que disputas são essas das quais
nós temos que ser vítimas? Creio que cabe ao PT e à Secretaria de Cultura do DF
uma resposta.
Também não dá mais para aceitar
o discurso da herança maldita, pois já houve tempo suficiente da casa ser
colocada em ordem. É necessário recolocar na pauta as propostas de campanha
elencadas para a cultura, repensar o modelo administrativo e ampliar as
parcerias com as outras pastas do governo. Ainda há tempo para que essa gestão
mostre algum diferencial e deixe alguma herança que não seja o velho ouro de
tolo que já bem conhecemos.
Adeilton
Lima
Ator
21-05-2012
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