segunda-feira, 30 de março de 2015

Polêmica do Código Florestal chega às telonas

 

 
Em meio à pior crise hídrica em mais de 80 anos em São Paulo, o documentário A lei da água - Novo código florestal chega aos cinemas para enriquecer o debate. Dirigido por André D"Elia (de Belo Monte: Anúncio de uma guerra) e com produção executiva de Fernando Meirelles, o filme destrincha os pontos mais polêmicos do código florestal - como a anistia de 29 milhões de hectares desmatados ilegalmente no país, a diminuição das áreas de proteção nas encostas íngremes e topos de morros, manguezais, matas ciliares e nascentes. Graças ao financiamento do próprio público, o filme será exibido em sessão única hoje em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte.
"Começamos a fazer uma pesquisa segmentada por veículos - mídia impressa, internet, televisão. Montando a estrutura do roteiro, vi que a água permeava todo o assunto, principalmente se levar em consideração o foco do filme, que é levantar a questão econômica", destaca D"Elia.
 O longa dá voz à comunidade científica, deixada de lado no momento de modificar o código florestal. "No final da votação do código, os ruralistas conseguiram vender a ideia de que houve um equilíbrio entre a vontade deles e dos ambientalistas", lembra Fernando Meirelles. "Não houve equilíbrio, foi modéstia deles: a bancada ruralista venceu por 7 a 1. Eles saíram felizes e o Brasil saiu perdendo."
Outro ponto enfatizado é o fato de que a proteção do meio ambiente não prejudica a produção agrícola. Pelo contrário, como lembra Antônio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o maior insumo da agricultura é a água, que depende da preservação das florestas. "O agricultor que há anos viu seus riachos secarem, que está endividado, já entende que deve sim preservar água. Muitos proprietários estão restaurando suas nascentes porque acham que água é importante, não porque a lei manda", afirma D"Elia.
A ideia de distribuir o filme nas salas comerciais por meio do financiamento coletivo é mais uma estratégia para engajar a plateia. "É uma forma de levar adiante a mensagem de que a sociedade tem essa responsabilidade e pode sim recuperar essas áreas", ressalta o cineasta, lembrando que as exibições são complementadas por um debate. Sem fins lucrativos, a verba do filme será revertida para sua divulgação em universidades, escolas, sindicatos rurais e comunidades carentes. Neste mês, o documentário foi exibido na Câmara dos Deputados, em sessão organizada pela Frente Parlamentar Ambientalista. 
 
A lei da água - Novo código florestal
Exibição do documentário. Hoje, às 21h30, na sala 8 do Espaço Itaú CasaPark. Ingressos à venda no https://agua.catarse.me
 
Veículo: CORREIO BRAZILIENSE - DF                                                     
Editoria: DIVERSÃO E ARTE                                              
Autor: Anna Beatriz Lisbôa Especial para o Correio
Data: 30/03/2015

sexta-feira, 27 de março de 2015

Morreu Herberto Helder, a voz mais fulgurante da poesia portuguesa

 


Morreu na segunda-feira o grande mago da poesia portuguesa actual. Herberto Helder tinha 84 anos e publicara há pouco A Morte Sem Mestre, livro onde se mostrava a morrer, mas ainda tocado por esse poder criador que o tornou único.
O poeta Herberto Helder morreu esta segunda-feira na sua casa de Cascais, aos 84 anos, e apenas alguns meses após o lançamento de A Morte Sem Mestre (2014), um ofício de trevas, irado e irónico, e às vezes de uma crueza sem bálsamo: “e eu que me esqueci de cultivar: família, inocência, delicadeza,/ vou morrer como um cão deitado à fossa!”. Outras vezes sabendo que os seus misteriosos dons criadores ainda não o tinham deixado de todo: “(…) a morte faz do teu corpo um nó que bruxuleia e se apaga,/ e tu olhas para as coisas pequenas/ e para onde olhas é essa parte alumiada toda”.
Como Pedro Mexia refere na sua reacção à morte do poeta, não tardará a tornar-se pacífico que Herberto Helder é o poeta central da segunda metade do século XX, como Pessoa o foi da primeira. Mas é uma centralidade que é ao mesmo tempo uma anomalia, porque a mágica e bárbara linguagem de Herberto, mesmo na sua versão atenuada dos últimos livros, parece vir do fundo dos tempos e ter nascido por engano nesta modernidade.

Não há na poesia portuguesa pós-Pessoa nenhum poeta que tenha exercido um tal poder de atracção e gerado tantos epígonos. E nenhum mais absolutamente impossível de imitar com proveito.
Quem leu desprevenidamente esses primeiros livros de Herberto, nos anos 60 e 70, há-de ter experimentado essa sensação de que a poesia só podia ser aquilo. Foi sempre esse o maior e mais estranho dom de Herberto Helder: convencer-nos (ainda que injustamente) de que escreve directamente em poesia, como se a poesia fosse a sua língua materna, e todos os outros poetas se limitassem a traduções mais ou menos conseguidas de um idioma perdido de que só ele detinha a chave.
Nada poderia estar mais longe desta pós-modernidade culta, enfadada, cínica e céptica, do que o entendimento que Herberto tinha da poesia. Numa extraordinária entrevista que concebeu para uma revista galega e que o PÚBLICO divulgou em 1990, ele próprio escreve: “(…) o poema é um objecto carregado de poderes magníficos, terríficos: posto no sítio certo, no instante certo, segundo a regra certa, promove uma desordem e uma ordem que situam o mundo num ponto extremo: o mundo acaba e começa”. Herberto Helder não vinha entreter ninguém, vinha para viver aquilo a que um dia chamou, com inteira propriedade, a sua vida verdadeira.
Apenas um ano antes de A Morte Sem Mestre, que assinalou a passagem da sua obra para a Porto Editora, o poeta lançara em 2013, na Assírio & Alvim, o livro Servidões. Mas fora sobretudo com A Faca Não Corta o Fogo (2008) que se tornara um caso de consenso crítico quase absoluto.

O maior depois de Camões
“Herberto Helder foi um poeta poderoso, a sua obra foi um centro de atracção e um horizonte em relação ao qual todos os seus contemporâneos tiveram de se situar”, diz o crítico António Guerreiro. “Como antes tinha acontecido com Fernando Pessoa, também houve um ‘efeito Herberto Helder’”.
Visivelmente emocionada com a notícia da morte de Herberto Helder, a escritora Maria Velho da Costa disse ao PÚBLICO que “morreu o maior poeta português depois de Luís de Camões”. A romancista, que vê em A Morte Sem Mestre “um longo poema, belíssimo”, conclui com um apelo: “Se as minhas palavras tivessem alguma influência, eu propunha um dia de luto nacional”.
“Quando morre um poeta com a dimensão de Herberto Helder, o que sentimos é que não apenas morreu um poeta mas a poesia”, declarou ao PÚBLICO o poeta madeirense José Tolentino Mendonça. “Nestes casos o luto torna-se insuportável e, ao mesmo tempo, este luto faz-nos perceber que Herberto Helder é imortal com a sua obra. Daqui a mil anos, se subsistir um falante de língua portuguesa, a poesia de Herberto Helder subsistirá”.
Num testemunho recolhido pela agência Lusa, o crítico e poeta Pedro Mexia considera que “o lugar de Herberto Helder na literatura portuguesa equivalerá ao de Fernando Pessoa na primeira metade do século XX”, algo que, acrescenta, “se começou a dizer há algum tempo e que se tornará, com o tempo, uma coisa pacífica, sem prejuízo dos grandes poetas da geração dele”

Desde O Amor em Visita, ainda no fim dos anos 50, até A Morte sem Mestre, já em pleno século XXI, a produção escrita de Herberto Helder criou um universo em permanente expansão e revisão, um poema contínuo constantemente reescrito. Cuja última formulação ficou agora irremediavelmente fixada pela sua morte nos recém-lançados Poemas Completos (Porto Editora, 2014), um título, aliás, algo desconcertante para quem nunca parece ter visto na sua obra uma sucessão discreta de poemas autónomos e fechados.
Se é inegável que Herberto Helder é hoje um poeta muito conhecido, a ponto de cada novo livro se esgotar num ápice – o que não quer necessariamente dizer que tenha assim tantos leitores –, nunca alimentou essa notoriedade com a exibição da sua pessoa civil. Já na sua poesia, pode dizer-se que os seus últimos livros assinalam uma inflexão marcada por uma mais nítida e declarativa dimensão autobiográfica, com todas as cautelas que a palavra exige quando aplicada a um poeta.
“Os meus restos mortais”
“Foi muito inesperado”, confessa o poeta Gastão Cruz sobre a morte de Herberto. “Tinha tido um contacto recente com ele, o que já não acontecia há algum tempo”, conta. No final de Janeiro Herberto enviou-lhe um exemplar dos Poemas Completos com uma dedicatória: “Aqui vão os meus restos mortais”.
Gastão Cruz lembra que conviveu muito com o poeta mais velho nos anos 60 e 70. “Primeiro, no restaurante Toni dos Bifes, ao lado do prédio onde vivia Carlos de Oliveira, e depois da morte de Carlos de Oliveira no café Monte Carlo.
Herberto era muito amigo do poeta de Sobre o Lado Esquerdo e “sentiu muito a sua morte”, diz Gastão Cruz: “A morte afectava-o, ele manifesta uma grande dificuldade em enfrentar o envelhecimento e a morte, e isso é muito visível em Servidões e em A Morte sem Mestre”.

Num e no outro livro, diz ainda, “vai por caminhos de linguagem diferentes dos anteriores, mais metafóricos, mas continua a ter uma linguagem fulgurante, só que com mais referências ao concreto”. A última poesia de Herberto “era de uma grande força verbal”, diz, e “mantinha uma ligação profunda com o que sempre foi a poesia dele, uma poesia de um poema único”.
O poeta prefere não estabelecer comparações, mas não hesita em afirmar que Herberto é um dos nomes de primeira linha da poesia portuguesa. “É extraordinário como na segunda metade do século XX, depois de um fenómeno como Fernando Pessoa, a poesia conseguiu renovar-se”, nota. “Surgiram poetas excelentes e ele é um dos maiores dessa geração onde estão Ruy Belo, Luiza Neto Jorge, ou poetas um pouco mais velhos, como Sophia e Carlos de Oliveira”.
Sobre a marca que Herberto deixa, Gastão Cruz remete para um ensaio de António Ramos Rosa, Herberto Helder – Poeta Órfico, onde este diz que Herberto Helder “é um poeta visionário e um poeta órfico da estirpe de um Hölderlin ou de um Rilke”.
A sua poesia “cruza o modernismo e o surrealismo com algumas coisas dos poetas do romantismo alemão”, mas há nela “uma intensidade própria” que Gastão Cruz associa a algo que o poeta um dia lhe confidenciou: “Disse-me que a poesia dele parte da tragédia pessoal que foi a perda da mãe aos oito anos”. E cita os versos de A Colher na Boca em que Herberto diz que “No sorriso louco das mães batem as leves/ gotas de chuva (…)”. “Ele podia ter deixado apenas esse livro e já seria suficiente para o considerar único”, diz Gastão Cruz.
“Do lado da verdade”
“Agora há um enorme silêncio”, diz Jaime Rocha, cujo testemunho confirma bem o hipnótico poder de sedução que a poesia de Herberto exerce sobre quem tomba de improviso nesta verdadeira língua por direito próprio. “Tínhamos vinte anos de diferença e a poesia dele apanhou-me quando eu tinha 17, 18 anos, e qualquer ideia de pensamento poético a partir desse momento se alterou, a minha relação com o texto mudou”, disse ao PÚBLICO Jaime Rocha, pseudónimo do escritor e jornalista Rui Ferreira e Sousa. “Demorei mais 25 anos a tentar encontrar um texto meu, uma palavra minha que conseguisse sair daquela força, daquela sedução”, garante.
“Herberto Helder é para mim o poeta mais importante, o que mais me influenciou de uma geração que incluía Sophia ou Eugénio de Andradiz ainda. “Dava-me uma força que só encontro no mar da Nazaré, a minha terra, um mar de tragédia, dramático”. E voltando à triste notícia da morte do poeta, constata: “Fomos construindo uma bola muito grande à volta do Herberto e nestes dias fica um grande vazio”.
A ensaísta Rosa Maria Martelo afirma dever a  Herberto Helder “horas sem conta de pura alegria de ler, de vislumbre, de paixão das coisas do mundo”. E ao saber que o poeta “morreu de morte súbita”, diz que “ter sido assim de repente” lhe parece “de uma grande justiça”. Nos últimos livros, recorda, “tinha antecipado muitas vezes a morte própria, vivendo-a em poemas exasperados, sem querer fugir à violência, ao pânico, mas em certos textos desejava isto mesmo: morrer depressa e sem dor”. E acrescenta: “Ele que nos últimos livros morreu tantas vezes, com evidente sofrimento”.
Herberto deixa-nos, diz, “uma das obras maiores alguma vez escritas em língua portuguesa, porque na sua poesia a língua extrema-se em subtileza, nitidez, precisão conceptual e plástica”. E sublinha que o poeta “escreveu com paixão absoluta” para notar que, “nestes tristes tempos, em que o significado das palavras flutua constantemente ao sabor de interesses e compromissos”, ele nos deixa “uma escrita que acontece literalmente no reverso disso, do lado da verdade, que é onde as palavras são um corpo vivo, sempre acabado de nascer”.

Poema contínuo
Nascido em 1930 no Funchal, Herberto Helder publicou os seus primeiros poemas em antologias madeirenses – Arquipélago (1952) e Poemas Bestiais (1954) –, e ainda na revista Búzio, editada por António Aragão. A sua obra de estreia, O Amor em Visita, um pequeno folheto editado pela Contraponto, saiu em 1958, quando frequentava, em Lisboa, o grupo surrealista que se reunia no Café Gelo, convivendo com Mário Cesariny, António José Forte ou Luiz Pacheco.
Por esta altura, abandonada a frequência universitária em Coimbra (primeiro de Direito e depois de Filologia Românica), o poeta tivera já vários empregos precários – passou pela Caixa Geral de Depósitos, angariou publicidade, trabalhou no Serviço Meteorológico e foi delegado de propaganda médica.
Em 1961, publicou o livro que desde logo o consagraria como uma das vozes fundamentais da poesia portuguesa: A Colher na Boca, editado pela Ática, a chancela que então publicava as obras de Fernando Pessoa. Ruy Belo, que também publicou na Ática, e no mesmo ano, o seu primeiro livro, Aquele Grande Rio Eufrates, contou a Joaquim Manuel Magalhães, segundo este narra em Os Dois Crepúsculos (1981), que “ao ver em provas na editora o livro de Herberto Helder, teria sentido ser esse o livro e não o seu”.
Entre a publicação, em 1958, do longo poema O Amor em Visita, cujos versos iniciais todos os jovens leitores de poesia portuguesa contemporânea sabiam de cor nos anos 60 e 70 – “Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra/ e seu arbusto de sangue. Com ela/ encantarei a noite (…)” – e o lançamento de A Colher na Boca, o poeta viajou pela Europa.
Tornou-se mítico o ecléctico e pitoresco inventário de ofícios que foi desempenhando para sobreviver enquanto deambulava pela França, Holanda e Bélgica. Foi operário metalúrgico, empregado numa cervejaria, cortador de legumes numa casa de sopas, guia de marinheiros em Amsterdão e empacotador de aparas de papel, curiosa ocupação para alguém que irá demonstrar uma permanente pulsão para se transformar, ele próprio, em papel, desaparecendo no interior da obra.
Regressado a Lisboa, trabalha nas Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian. Depois passa pela Emissora Nacional e pela RTP, trabalha em publicidade e torna-se, em 1969, director literário da Estampa, onde dá início à edição das obras de Almada Negreiros, que sempre admirará.
Em 1963, publicara um livro que basta para lhe assegurar também um altíssimo lugar entre os prosadores portugueses contemporâneos, Os Passos em Volta. Ainda nos anos 60, saem Poemacto (1961), Lugar (1962), Electronicolírica (1964), depois reintitulado A Máquina Lírica, Húmus (1967), o seu fascinante diálogo com Raul Brandão, e Retrato em Movimento (1967). Em 1968 publica O Bebedor Nocturno, o primeiro devários volumes de traduções de poesia, e Apresentação do Rosto, título que mais tarde rejeitará, ainda que vários dos textos que o compõem ressurjam depois noutros livros.
No início dos anos 70, volta a viajar pela Europa e, em 1971, trabalha em Angola para a revista Notícia, de Luanda. Numa das suas reportagens, ao viajar com o seu colega Eduardo Guimarães, que ia ao volante, sofre um grave acidente de viação que quase lhe custa a vida.
Novamente em Lisboa, trabalha na editora Arcádia, e também na RDP, e colabora em várias publicações, sendo um dos organizadores da revista Nova (1976).
Em 1968 afirmara ir deixar de escrever – voltará a fazê-lo mais vezes –, e, de facto, descontado Vocação Animal (1971), não publica nenhum novo livro até Cobra (1977), se exceptuarmos também os dois volumes da Poesia Toda, publicados na Plátano em 1973, ano em que viaja para os Estados Unidos.
Mas Cobra assinala o início de um período muito criativo, que inclui O Corpo o Luxo a Obra (1978), Flash (1980), ou A Cabeça Entre as Mãos (1982). E ainda o volume de prosa e poesia Photomaton & Vox (1979), o primeiro lançado com a chancela da Assírio & Alvim, de Hermínio Monteiro e Manuel Rosa, que será durante décadas a sua editora.
Se descontarmos as compilações e traduções, e a sua muito pessoal antologia da poesia moderna portuguesa, Edoi Lelia Doura (1985), segue-se mais um período de silêncio até A Última Ciência (1988), e outros seis anos até Do Mundo, publicado em 1994, o mesmo ano em que lhe é atribuído o Prémio Pessoa, que Herberto Helder recusa, pedindoao júri que não o anunciassem como vencedor e dessem o prémio a outro.
Embora continue a reescrever a obra, Herberto eclipsa-se depois durante quase uma década e meia. Mas o seu regresso com A Faca Não Corta o Fogo, possivelmente o melhor livro de poesia portuguesa do século XXI, é avassalador. Em 2013 publicou Servidões, e em 2014 saiu A Morte Sem Mestre, que assinalou a sua passagem para a Porto Editora e recebeu críticas desiguais, quebrando pela primeira vez o consenso quase absoluto que se gerara em torno da sua obra.
Herberto Helder vivia actualmente com a sua segunda mulher, Olga Ferreira Lima, em Cascais. Era pai de Daniel Oliveira, político e colunista, e de Gisela Oliveira. O seu funeral realiza-se hoje e vai ser reservado à família, informa a Porto Editora.
com Isabel Lucas, Isabel Coutinho e Hugo Pinto Santos

Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/morreu-herberto-helder-a-voz-mais-fulgurante-da-poesia-portuguesa-1690151

terça-feira, 24 de março de 2015

FIGURAS - Lançamento da poeta Marina Mara

 Março é o mês da poesia, "da mulher" e no último dia do mês a ariana poeta Marina Mara lançará seu livro Figuras e celebrará seu aniversário - e você éo  convidado mais que especial dessa festa.
O livro Figuras traz 123 poemas escritos em diferentes momentos da vida da autora, porém, todos com a mesma textura lírica e ativista. O livro será lançado também na versão e-book pela editora Kiron, com sede em Taguatinga, cidade natal da poeta Marina Mara. O ativismo literário de Marina Mara está presente nos 123 poemas deste livro, que também presta homenagem a algumas "figuras" ímpares como Honestino Guimarães, Pagu, Patativa do Assaré, Fela Kuti, Leila Diniz, Laerte Coutinho, Manoel de Barros, Baden Powell, Reynaldo Jardim, entre outros seres imprescindíveis para nossa formação ideológica e poética. O prefácio do livro é do mestre Tom Zé, guru amoroso de Marina Mara e figura imprescindível que dispensa apresentações. 


A ilustração da capa do livro é da artista plástica e tatuadora Téssia Araújo, que expressou com sua arte a essência dos poemas e da autora em cada traço e cada tom de aquarela que ilustra o livro Figuras. Conheça mais sobre a artista no http://instagram.com/tessiatattoo .

Como sempre, nosso palco está aberto à poesia de quem chegar. A noite dessa terça está recheada de surpresas musicais, líricas e inesquecíveis, além do sorteio de um Day SPA Poético do Lotus SPA, um ensaio fotográfico da Mirah Fotografia, livros, imãs poéticos e no mais, quem vier ver, verá. 

AniverLounge, parabéns a quem vier ♥ !

SERVIÇO
Lançamento do Livro Figuras e Niver da poeta Marina Mara 
Dia 31/03
Das 20h às 1h30
Entrada: um sorriso
Apoio: Balaio Café

Produção: Marina Mara



Marina Mara é poeta, publicitária, ativista cultural, atriz, roteirista, designer gráfico, consultora de projetos poéticos e literários. Atua pelo Brasil desde 2006 com projetos multimídia que abordam a poesia em diferentes formatos como grafite, quadrinhos, cinema, artes visuais, teatro, intervenções urbanas, internet.
Dedicada exclusivamente à poesia, Marina viajou o país ministrando cursos e oficinas poéticas em feiras literárias e coletivos de arte. Em maio de 2010, Marina Mara lançou seu primeiro livro solo, o SarauSanitário.com, que é parte de um projeto homônimo que distribuiu poesia por banheiros públicos e pelo mundo virtual. Em março de 2012, Marina produziu a Parada Poética, reunindo cerca de cinquenta artistas (e amigos) no palco-caminhão do Teatro Mapati para celebrar o Dia Mundial da Poesia. Em junho de 2012, Marina foi convidada a se apresentar na Cúpula dos Povos na Rio +20 e também realizou intervenções poéticas Rio a fora, distribuindo cerca de 500 poemas em troca de sorrisos. Em outubro do mesmo ano, Marina realizou a segunda edição do projeto Declame para Drummond, um intercâmbio de poesia autoral em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade que distribuiu poemas por todos os estados do Brasil, em algumas cidades de Portugal, Espanha, Itália, Noruega, Suíça, Timor Leste, para os brasileiros que lá residem, principalmente, totalizando cerca de 50 mil poemas.
Em 2013 Marina lançou o curso Profissão Poeta que pretende, de forma prática e descontraída, indicar o caminho das pedras – que haverão no meio do caminho – entre poetas e o público/mercado. Os temas abordados no Curso são: publicação de poesia, captação de recursos, produção independente, dicas de palco e Poesia Falada, divulgação na mídia, poesia na internet, estratégias de marketing, entre outros. No Rio de Janeiro, Marina foi selecionada para participar do Festival Internacional de Teatro Home Theatre em 2013, onde dirigiu e atuou em o espetáculo poético autoral Sarau Sanitário. Em novembro de 2013, Marina foi uma das poetas convidadas da Feira do Livro de Pelotas – RS, da qual também participaram Alice Ruiz, Chacal e Nicolas Behr. 
Em julho de 2014 foi mês de nascimento do Lounge Poético, um laboratório-sarau realizado semanalmente em Brasília com sucesso de público e entrada gratuita.A proposta do Lounge é lançar novos poetas, fomentar a cena local, formar público para a poesia e oferecer aos poetas oficinas e vivências lúdicas com artistas de renome na cena literária como a escritora Elisa Lucinda. Marina Mara ministrou várias oficinas em 2014, entre elas: Poesia Ativista no projeto Mapa Gentil; Roteiros e zines no Jovem de Expressão – Ceilândia - DF; Profissão Poeta em algumas feiras literárias e coletivos de artistas pelo Brasil. Em outubro desse ano a poeta produziu a terceira edição do Declame para Drummond, com a participação de 180 poetas de todo o país. Ainda em 2014, Marina participou do longa-metragem Menina de Barro, do diretor Vinícius Machado, e do curta-metragem Diana, do mesmo diretor. No mesmo ano Marina Mara ministrou o curso Mulheres que Correm com os Lobos, com foco na autoestima e valorização do Sagrado Feminino.
         
Em 2015 Marina Mara idealizou e produziu o calendário Poesia Nua, no qual quinze poetas posaram nus para arrecadar fundos para publicação de livros, recebendo grande destaque nos principais veículos de comunicação do país. O calendário trabalhou fotografia, poesia autoral e a arte urbana do artista londrino Banksy – artes gráficas feitas por Marina Mara. Em fevereiro Marina Mara colocou o bloco Rejunta meu Bulcão na rua como coordenadora e idealizadora propondo uma homenagem poética ao artista Athos Bulcão e a Brasília - foram mais de mil e quinhentas pessoas ocupando as ruas da cidade de forma poética, iniciativa que foi pauta de vários jornais, inclusive o jornal TeleSur, que deu ao bloco visibilidade internacional. Em março de 2015, Marina lançou dois cursos de interpretação de poesia, o Poeteen, para jovens e o Poesia no Palco, para adultos. No fim deste mês Marina lançará seu livro Figuras, com 123 poemas e prefácio de Tom Zé.

“Ser romântico é achar que tudo são flores, ser poético é plantá-las”. 
Marina Mara
 https://www.facebook.com/events/691099094333842 



segunda-feira, 16 de março de 2015

Coletivo de Poetas homenageia Thiago de Mello

Há mais de dois anos sem promover saraus, o Coletivo de Poetas está de volta. Dia 20 de março o grupo homenageia o poeta, tradutor e ensaísta Thiago de Mello, no Empório Mineiro (CLN 104).

O poeta amazonense será tema de minipalestra sobre sua vida e sua obra e rodas de leituras de sua poesia. Poetas convidados: Alceu Brito Côrrea, Carla Andrade, José Edson dos Santos e Menezes y Morais. Músico convidado: Nonato Veras.


QUEM SÃO

ALCEU BRITO CÔRREA, engenheiro elétrico e poeta belorizontino. Publicou Epiciclo e Ekinox, de poesia. É coautor de Fincapé, com o Coletivo de Poetas, entre outras coletâneas. Colaborou com diversas antologias de contos e poesia, no Brasil, Portugal e na Itália. Alceu fará minipalestra sobre a vida e a obra de Thiago de Mello.

 
CARLA ANDRADE Bonifácio Gomes é mineira de Belo Horizonte. Atua como jornalista e poeta. Publicou Conjugação de Pingos de Chuva e Artesanato de Perguntas, ambos de poesia. É coautora da coletânea de poemas Fincapé, do Coletivo de Poetas.

JOSÉ EDSON DOS SANTOS: arte-educador, poeta e contista macapaense. Publicou Bolero em Noite Cinza e Ampulheta de Aedo, ambos de poesia; Loucura pouca é bobagem (contos e esquetes). Entre as coletâneas poéticas, Latitude Zero e Fincapé; de contos, Todas as gerações – o conto brasiliense contemporâneo.
 
MENEZES y MORAIS, jornalista, professor, historiador, escritor. Livros: Diário da Terra& amp; Cenas da Cidade Sitiada; A Balada do Ser e do Tempo, O Rock da Massa Falida, poesia, entre outros. Por Favor, Dirija-se a Outro Guichê (teatro); O Suicídio da Mãe Terra (contos) e A Íris do Olho da Noite (romance). Também fará minipalestra sobre Thiago de Mello.  

NONATO VÉRAS. Nasceu em Tutóia (MA). Músico e poeta. Participou do Liga Tripa, Músicas-à-tentativa e Udigrudi entre outros. É percussionista na Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional CS. Coautor de Fincapé, do Coletivo de Poetas. Gravou o CD Trakstykatum. Está fazendo um livro e um novo CD.

            THIAGO DE MELLO: nasceu a 31 Março de 1926 em Manaus (AM). É um dos mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional. Tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Preso durante a ditadura (1964-85) exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Um traduziu a obra do outro e Neruda escreveu ensaios sobre o amigo.

SERVIÇO
O quê: Sarau do Coletivo de Poetas.
Quando: 20/3/2015. Horas: das 18h30 às 22h.
Onde: Empório Mineiro: CLN 104 Bloco B Loja 32 – fone: 3340.2283.
Couvert artístico: R$ 5 (cinco reais).

quinta-feira, 12 de março de 2015

A Brasília do revolucionário paulista-candango Ennio Bernardo

Em comemoração ao aniversário de 50 anos da capital federal, a Câmara Legislativa vai expor 24 esculturas em mármore, granito e metal, do artista paulistano radicado em Brasília Ennio Bernardo. As obras realizadas, com matérias-primas vindas de Portugal e do Espírito Santo, estarão disponíveis à visitação do público entre 26 de março e 31 de maio no Espaço Cultural do Foyer do Plenário da CLDF.

Duas semanas antes da inauguração, no dia 12 de março, o Conselho Curador de Cultura da CLDF realiza o vernissage de pré-lançamento da exposição. O evento ocorre a partir das 20h, no Ernesto Cafés Especiais (115 Sul).

Segundo o curador da exposição, o paranaense Adriano Vasconcelos, a Brasília de Ennio Bernardo revela uma extraordinária contradição. "Se a Capital de todos os brasileiros brotou do solo árido do cerrado por meio das calejadas mãos candangas, para este solo ela retorna pelas mãos de Ennio. E na pedra, ele grava os revolucionários traços de Niemeyer e a ousadia de Kubitschek. Na rocha estão presentes a um só tempo, as utopias de Juscelino, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e a epopéia de tantas Marias e Josés, Raimundos e Severinos, que impregnaram, com seu suor e trabalho, no clima seco do Planalto Central, sua imensa humanidade, tão brasileira quanto as esculturas modernistas deste revolucionário paulista-candango".

Além das esculturas inspiradas em Brasília, o Arquivo Público do DF fará, no mesmo espaço cultural da CLDF, uma mostra conjunta de fotografias históricas da construção da cidade.
Coordenadoria de Comunicação Social 
 
 

terça-feira, 10 de março de 2015

POEMAÇÃO em Taguatinga dia 12 de março de 2015


No dia 12 de março de 2015 o POEMAÇÃO em conjunto com Tróia Negra faz seu primeiro sarau na cidade de Taguatinga, com o propósito de divulgar e incentivar a poesia brasiliense o POEMAÇÃO contará com a presença de poetas de Brasília que dividirão o palco com artistas nas áreas de música e cênica. 
Participantes:
Marina Andrade compositora, cantora e intérprete da música brasileira em que a poesia e a boa harmonia são presentes. Compôs músicas sobre poemas de Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos e Fernando Pessoa. No cd Versos Íntimos, Marina Andrade homenageia e exalta musicalmente a genialidade de Augusto dos Anjos, cuja modernidade dos versos, a ironia e a dramaticidade foram magistralmente transformadas em blues, pop e folk. Marina Andrade desenvolve ainda um delicado trabalho de composição sobre poemas de destacados poetas de Brasília como Jorge Amâncio, Gelly Fritta, Nicolas Behr e Menezes & Moraes dentre outros. 
O Poeta dos Ventos, Alen Guimarães, é jornalista, fotógrafo, assessor de imprensa e produtor cultural. Dois livros publicados, Frente & Versos e o Mosaico de Sonhos, livros de poemas e algumas canções. Um poeta que ama cantar seus poemas, um Poeta que ama a vida.
Cumpadi Ancelmo Borges de Moura, poeta-matuto e contador, de Oeiras, Piauí. Com a boa cepa nordestina representa com os verbos criados, crescidos e declamados dos poemas que cantam as sagas e os mistérios do povo nordestino, sertanejo e lutador. Declamador de mestres como Zé da Luz, Patativa do Assaré, Amazan dentre outros tantos do sertão nordestino.
Henrique Silva músico e compositor com um repertório que passeia pelos ritmos da MPB e composições afro-brasileiras. Rique Silva nos apresenta o seu mais recente trabalho “Mate-me agora ou me ame pra sempre” que penetra no universo poético de letras em guardanapos, em pedaços de papel, algumas cifradas outras datilografadas, muitas noites sem dormir e a paixão que teima em ser lembrada, querida e rejeitada, nas andanças de um poeta em “Batom d‘amor e morte”de Jorge Amancio. 
Grupo de Teatro Elementos Pretos formado em 2014, nos traz uma proposta de reflexão e ação, sobre o genocídio sofrido pela população negra, num esquete com direção de Rafael Dos Santos Nunes e Dilmar Durães que também participam do texto em conjunto com Bruna Rosa. 

Serviço: 
POEMAÇÃO
Local: EMPÓRIO DAS BEBIDAS
QI 02 Lote 01 Loja 02 – SANDÚ NORTE
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sexta-feira, 6 de março de 2015

Letras Vermelhas, um espaço para a novíssima poesia brasileira

6 de março de 2015 - 13h14
   

Letras vermelhas é uma página dedicada à divulgação de novos poetas brasileiros, de diferentes linhas de pesquisa estética, que publicam seus poemas em blogues, sites, revistas literárias e livros editados por selos independentes.
       

Arquivo pessoal
Chiu Yi Chih é escritor, performer e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo Chiu Yi Chih é escritor, performer e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo
     
Os jovens poetas participam de recitais e festivais de poesia, que acontecem em espaços culturais, bares, livrarias e adotam várias formas de comunicação poética, do poema visual à performance, da poesia cantada ao oriki, ao haicai e ao poema em prosa.

Os temas abordados por eles vão da denúncia da violência urbana à celebração do corpo, do pensamento, da afetividade e da própria linguagem poética.

A partir desta edição, Letras vermelhas apresentará aos leitores alguns dos autores que se destacam no panorama da novíssima cena literária brasileira pela originalidade e consistência de seu trabalho.

O poeta que inaugura a seção é Chiu Yi Chih, nascido em 1982 em Taiwan e radicado no Brasil. Escritor, performer e mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é autor do livro Naufrágios (Rio de Janeiro: Multifoco, 2011) e criador da Metacorporeidade e do LOZ-2962 Studio com o escultor Irael Luziano.

Chiu escreve no blog Philomundus. A seleção dos autores apresentados em Letra vermelha é feita pelo poeta e professor de literatura portuguesa Claudio Daniel, que foi curador de literatura e poesia no Centro Cultural São Paulo e hoje é colunista da revista Cult.

Veja três poemas de Chiu Y Chih ilustrados com obras de Irael Luziano:
Ao limite do ruído enclausurado

paletó esfarelado na brisa da insônia quando a nuvem se alarga entre flocos de cimento e nenhum solo propício se ergue diante do rubor das árvores em meio ao redemoinho de magnésios e aminoácidos de uma cidade entulhada de vesículas impermeáveis a poucos metros de um corpo irreconhecível que quase não fala nem se cala mas se engalfinha sob alérgicas ferragens nos pés daquela malha de sobrancelhas que receosamente se esquiva por detrás dos lençóis embolorados nas espinhosas azinheiras com os biombos que dilatam aquele solitário monstro enquanto todos os anteparos se entregam aos sonhos retorcidos numa abstinência inexplicável de gastronômicos asfódelos fincados quase ao fim do interminável precipício que obscurece as veias apagando os temores de tal latitude de sombras então não havendo pensamentos que não tenham sido triturados pelas raízes da própria irrealidade quando ninguém mais se contenta em ser apenas efêmera transparência fingindo-se impassível ânsia de ser-sombra ou indefinidamente aniquilado entre ossaturas pisoteadas com clavículas em incêndio por cima de estraçalhamentos como se mais do que mero enredo de panacéias assim pudesse atravessar o próprio som das mortes ilusórias a tal ponto de travestir-se numa outra identidade passível de ser brevemente dispersada em gravuras metálicas ou mesmo nas colagens de genitálias desfiguradas tal qual a desolada visão de algumas criaturas que nos leva à suspeita de não sei que desequilíbrio dos sulcos linfáticos no instante em que ainda se entrelaça este sussurro de máquinas com dióxidos que se desenrolam sobre a efígie da paixão quando a tal tempestade se encasula nos tijolos ao mesmo tempo que uma lufada de vento sorrateiramente enclausura as luzes que mal escorrem entre liquefações e fugacidades porém sempre atirando os cordões da perversidade daqueles que se amam relatando suas histórias sem que entretanto qualquer uma delas possa ser fielmente reconstituída da mesma maneira em que contemplamos a fatalidade quando repentinamente um jovem desprevenido pode sucumbir ao desejo de se abandonar à deriva como se jamais houvesse carregado consigo seus diários pessoais ao se ver coagido naquele incipiente realismo de cadernos improvisados sendo que cada passo se revelaria vulnerável aos ataques furibundos de arrancar a própria pele sem nunca saber ao certo se chegou a esta cidade por um caminho interditado quando ele mesmo se vê incapaz de escrever seu próprio nome considerando que tal falha teria sido impossível a menos que uma peça de vidro o tenha atraído para aquele abismo azulado onde tal angústia seria como olhar o fundo de uma tampinha de aço em que talvez pudesse reencontrar nesta pérfida erosão algum rosto indefinido a perder-se de vista murmurando apenas primavera-clamor tanto quanto uma pedra poderia se encolher nas margens da vaga luminosidade ou mesmo tais nuvens que se sonhariam abraçadas se dissessem uma à outra inúmeras asperezas naquela música em que todos estaríamos excitados quase a estremecer de terrores e prazeres diante de tantas vidas amaldiçoadas em confronto com o único horizonte que seria o desastre que nos absolveria daquela arquitetura de ínfimos arcos tingidos pela eterna hipótese de sonhar com uma paisagem inextinguível de tal modo que sejamos restituídos à informe moldura pois sendo então inútil reter qualquer substância assim que num segundo o ar começa a se expirar em milagrosas diluições com os estrépitos da infâmia sem que se possa ouvir o próprio silêncio das árvores quando ainda ele deveria suspirar de vileza se vislumbrasse agora um esquálido cavalo debaixo de alguns galhos ou se sua lâmina aguçada tivesse redescoberto a sombra de sua própria mãe a suplicar-lhe misericórdia precisamente naquela estrada limítrofe onde o cavalo mais pálido do que magro teria sido um presságio que neutralizaria o lado obscuro da noite quando somente um ponto minúsculo lhe serve como vestígio no meio do deserto onde os corpos inteiramente desnudos parecem estar incinerados com o rosto de seu pai que então lhe desvelaria o crepúsculo de sua própria humanidade se por acaso seu espírito fosse uma raposa suspendida nos ganchos da máscara com que se aspira o último prepúcio extraído da gola prisioneira sem a qual a frágil ventania provavelmente se dissolveria diante dos sobrados ressentidos após sucessivos pesadelos de sangria onde um rosto poderia se desdobrar numa mórbida infinidade de outros rostos atrás dos quais ter-se-ia vislumbrado um assassino de sonhos desaparecendo com miríades de esconderijos durante a cremação dos cristais de fogo no meio da qual os homens se desencaminhariam em virtude dos estilhaços que submergem sob o enxame de musgos que atacam o círculo adormecido das correntes como se todas as pálpebras pudessem se recurvar até se deixarem absorver pelo negrume que subsiste abaixo das escalas de altiplanos escumosos ou mesmo assim sendo pressionadas voluptuosamente debaixo das conchas de grutas retesadas ao som das folhas aspiradas pela pólvora admirando-se tal qual imaginação ruidosa dos cérebros naquele alvoroço tão infantil de se mesclar às rochosas lágrimas do mastro demoníaco e então apenas se recurvando a ponto de ser fulminado pelos sinos de sangue ferruginoso e ser arrastado para além dos olhos das lagunas derrisórias

Ossivorous

enquanto as pálpebras escarnecidas ao galope dos mausoléus estremecem aquele trilho enrugado das lembranças uma menina com suas veias auspiciosas tritura a pedra de riso condenável no turvo deleite dos dias que se estendem até o ápice das visões mais distantes como se nenhuma sandália de platina pudesse ser resgatada durante a crispação do torso aracnídeo sobre essa algaravia insustentável de tantas lástimas expurgadas quando nem mesmo nossos espasmos saberiam atravessar o limiar das efusões insulares daquela muralha de enxofre onde pela última vez ainda se eclipsavam as gramíneas das vultosas encenações sendo que um promontório bordejado pelas cornijas de barba equina se escureceria aos látegos dos sorvedouros encefálicos daquele forasteiro arqueado no recôncavo em fúria tal como se um caudaloso e inconsolável quebra-mar se agigantasse em meio às profusões de agulhas que se arrastam sob a desfiadura dos salgueiros gaseiformes acima de todas as tábuas enfunadas pelo estrondo do recém-dissecado dédalo de tal modo a desembarcar rumo ao irremediável quadrilátero à beira-vazante do gozo originário das amputações cubiculares com as fluorescências de uma ave fibrilosa que nunca se cansa de morrer em sua própria queda astronômica

Arboreous

sob a eternidade de uma sombra sem asas circula o pássaro dos candelabros de seus beiços infames e a cada pausa redobrada dessa claridade cinzenta se descortinam os tentáculos daquela planície esganiçada como se todos os espelhos suplicassem com a navalha de suas penugens brumosas assim quando os olhos começam a regurgitar as tapeçarias da impetuosa caverna enquanto involuntariamente ainda se recolhem as mãos das flores sudoríferas desenfaixando a concha dos rastros vaticinadores por meio da escoriação inumana de seus ouvidos onde em raras ocasiões até as bandeiras imprecatórias pareceriam irromper de dentro do suspiro das constelações em desalinho desfolhando sem nenhum remorso o grumo das sereníssimas conspirações

LOZ
Os três poemas com as imagens de suas respectivas esculturas são trabalhos do LOZ (Chiu Yi Chih e Irael Luziano). Ambos artistas fundiram suas linguagens e realizam conjuntamente obras em escultura, performance, poesia e vídeo em torno da proposta da “Metacorporeidade”. Recentemente publicaram juntos o livro “Metacorporeidade” (Editora Córrego) com prefácio de Cláudio Willer e texto de Luis Serguilha. Suas obras se encontram no www.loz2962.com .

http://www.vermelho.org.br/noticia/260123-11
 
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