quinta-feira, 5 de abril de 2012

RESA, FÉ E ARTE



       por   jose roberto da silva 
Brasília, esse invejado oásis plantado por JK no coração do Brasil, perdeu dia 31 passado o olhar agudo e a mão suave de Luis Eduardo Resende Brito – o artista plástico e designer Resa.

            Nos anos 50, quando ele nascia, Billy Blanco cantava “não vou, não vou prá Brasília; nem eu e nem minha família; sou pobre e não quero ficar cheio da grana...”. Resa veio em 82. Ficou rico em amizades, dois filhos e um legado artístico inigualável, o que fechada a conta no boteco de São Pedro ainda rende polpudo troco.
            O lançamento em 85 da revista Bric a Brac – título nascido a partir de uma arguta observação da atriz Bidô, mãe de seu filho Tito - foi o auge do movimento cultural autônomo da Nova Capital, após anos de fricções dos seus jornalistas, artistas e intelectuais contra o perigoso e rarefeito “quintal” do regime autoritário. A irreverência que marcou a criação do Bloco “Pacotão” em 1977 ressurgia na revista, macunaímica e tropicalesca.
E não era para morrer de rir daquela capa com a Monalisa hipnotizada em discreto sorriso erótico, totalmente chapada e com um cigarro de maconha entre os dedos? Ou a frase profética de Turiba contra a permissividade da geração anos 60 que viria resultar na atual decadência da epidemia das drogas: “eu não cheiro; eu assopro”?
sepulcro de menor - por Resa
A multiplicidade de estéticas, gramáticas e discursos poéticos e plásticos provavam que se abrira uma caixa de pandora ao contrário, fruto da redemocratização e da liberdade de expressão. O gênio plástico de Resa liquidificava aquele borbulhar de criatividade e transformava o tal bric a brac em uma vitrine pop fosforescente. Pela primeira vez, o Brasil a fora que ainda vive hoje de costas à cidade espantosa reconheceu vida inteligente no sertão central e não apenas o Diário Oficial e academias parnasianas. A liderança da alma poética de Luis Turiba, a tenacidade de Lúcia Leão e o espírito visionário do mecenas Ivã Presença completavam o quadrunvirato.
          Esse espírito cosmopolita de Resa, inclusive na sua obra plástica autoral, infelizmente parece ter sido abandonado em Brasília dado o desapreço pela produção local.

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