por jose roberto da silva
Brasília, esse invejado oásis
plantado por JK no coração do Brasil, perdeu dia 31 passado o olhar agudo e a
mão suave de Luis Eduardo Resende Brito – o artista plástico e designer Resa.
Nos anos 50, quando ele nascia,
Billy Blanco cantava “não vou, não vou prá Brasília; nem eu e nem minha
família; sou pobre e não quero ficar cheio da grana...”. Resa veio em 82. Ficou
rico em amizades, dois filhos e um legado artístico inigualável, o que fechada
a conta no boteco de São Pedro ainda rende polpudo troco.
O lançamento em 85 da revista Bric
a Brac – título nascido a partir de uma arguta observação da atriz Bidô, mãe de
seu filho Tito - foi o auge do movimento cultural autônomo da Nova Capital,
após anos de fricções dos seus jornalistas, artistas e intelectuais contra o
perigoso e rarefeito “quintal” do regime autoritário. A irreverência que marcou
a criação do Bloco “Pacotão” em 1977 ressurgia na revista, macunaímica e tropicalesca.
E não era para
morrer de rir daquela capa com a Monalisa hipnotizada em discreto sorriso
erótico, totalmente chapada e com um cigarro de maconha entre os dedos? Ou a
frase profética de Turiba contra a permissividade da geração anos 60 que viria
resultar na atual decadência da epidemia das drogas: “eu não cheiro; eu
assopro”?
sepulcro de menor - por Resa |
A
multiplicidade de estéticas, gramáticas e discursos poéticos e plásticos
provavam que se abrira uma caixa de pandora ao contrário, fruto da
redemocratização e da liberdade de expressão. O gênio plástico de Resa
liquidificava aquele borbulhar de criatividade e transformava o tal bric a brac
em uma vitrine pop fosforescente. Pela primeira vez, o Brasil a fora que ainda
vive hoje de costas à cidade espantosa reconheceu vida inteligente no sertão
central e não apenas o Diário Oficial e academias parnasianas. A liderança da
alma poética de Luis Turiba, a tenacidade de Lúcia Leão e o espírito visionário
do mecenas Ivã Presença completavam o quadrunvirato.
Esse espírito cosmopolita de Resa,
inclusive na sua obra plástica autoral, infelizmente parece ter sido abandonado
em Brasília dado o desapreço pela produção local.
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