João
da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos
alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo
Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola
secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os
estudos e trabalhar.
Sofre
uma série de perseguições raciais, culminando com a proibição de assumir o
cargo de promotor público em Laguna, por ser negro. Em 1890 vai para o Rio de
Janeiro, onde entra em contato com a poesia simbolista francesa e seus
admiradores cariocas. Colabora em alguns jornais e, mesmo já bastante conhecido
após a publicação de Missal e Broquéis (1893), só consegue arrumar um emprego
miserável na Estrada de Ferro Central.
Casa-se
com Gavita, também negra, com quem tem quatro filhos, dois dos quais vêm a
falecer. Sua mulher enlouquece e passa vários períodos em hospitais
psiquiátricos. O poeta contrai tuberculose e vai para a cidade mineira de Sítio
se tratar. Morre aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e,
principalmente, do racismo e da incompreensão.
ENCARNAÇÃO
carnais,
sejam carnais tantos anseios,
palpitações
e frêmitos e enleios,
das
harpas da emoção tantos arpejos...
Sonhos,
que vão, por trêmulos adejos,
à
noite, ao luar, intumescer os seios
láteos,
de finos e azulados veios
de
virgindade, de pudor, de pejos...
Sejam
carnais todos os sonhos brumos
de
estranhos, vagos, estrelados rumos
onde
as Visões do amor dormem geladas...
Sonhos,
palpitações, desejos e ânsias
formem,
com claridades e fragrâncias,
a
encarnação das lívidas Amadas!
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