07/04/2013 21h21
- Atualizado em
08/04/2013 00h36
Chico trabalhou desde criança como vendedor de jornais até se tornar um dos livreiros mais famosos da cidade.
Para a filha, ele vive no mundo da lua. “Ele sonha muito alto. A mente dele vai além do que ele pode”, observa a estudante Bruna Carvalho.
Para a mulher, uma ideia fixa o governa. “Ele dorme pensando em livros, acorda pensando em livros, almoça pensando em livros e sonha com os livros”, conta a dona de casa Cláudia Maria Carvalho.
Para os alunos da Universidade de Brasília, é um ídolo. Para os professores, uma celebridade.
Afinal, quem é? O que quer Francisco Joaquim de Carvalho?
“Conceituar o mundo através da leitura, do trabalho com os livros, sabe?”, responde o livreiro.
Um menino pobre que veio do Piauí. Só a viagem para Brasília já daria um livro. “Saíram meus oito irmãos. A gente veio de pau de arara”.
Trabalhou desde garoto nas ruas da capital. “Comecei a vender jornal”. Todo mundo estranhava. Um jornaleiro que lia o jornal inteiro antes de entregá-lo?
“Eu comecei a entender um pouco do mundo através dos jornais e das revistas”, diz.
Como se o mundo dos jornais fosse um estágio para o universo dos livros. “Acho que já tinha uma proposição na vida de ser um livreiro, de trabalhar com livro. Pra mim, acho que é uma predestinação”.
E parece até que já estava escrito: o ex-jornaleiro foi vender livros na universidade.
O Chico só conseguiu concluir o ensino médio. Mas poucos têm tanto tempo de universidade quanto ele. Em 38 anos de UNB, o livreiro que nunca fez faculdade ajudou gerações e gerações de universitários que encontraram um atalho para o conhecimento na Livraria do Chico.
Eis o território do Chico Livreiro. “Tem a sua tradição; o seu espaço aqui que é praticamente sagrado”, diz o estudante Luís Cristóvão Lima.
Esgotado? Desconhecido? Impossível? O Chico acha.
“A gente fala o nome do livro e ele conhece até a editora”, conta a estudante Priscila de Luna.
“Ele é do tipo do livreiro antigo, que conhece todas as edições, sabe exatamente localizar o livro que você precisa”, elogia o professor da UNB Gustavo de Castro.
Não se engane com a aparência de caos. “O Chiquinho conhece isso aqui na palma da mão. E não é de agora. Olha, eu estudei na UNB em 1985!”, lembra a artista plástica
Maria de Lourdes da Costa e Silva.
Um hábito dos tempos de jornaleiro: sair catando leitores pelo caminho. Perambular pelos corredores da UNB deu a Chico a grande oportunidade que ele esperava: conviver com escritores e intelectuais.
“Todos os pensadores que iam na universidade, eu pegava autógrafo. Eu tenho do Moacyr Scliar, do Ariano Suassuana, do carteiro e o poeta: Antonio Skármeta”.
De Cora Coralina, famosa escritora goiana, a dedicatória é quase um poema. “Seja você sempre robusto e de boa sombra, como o Carvalho do seu nome. Cora Coralina”.
A maior emoção da vida: dois dedos de prosa com o Nobel de literatura José Saramago num corredor da UNB.
“Conversou bem pouquinho, mas já foi o bastante pra mim, pra ficar feliz para o resto da vida, sabe?”
E uma predileção confessa: “Eu adoro Paulo Leminski!”.
Gostar de ler dá a Chico a segurança da indicação correta. Seja para quem gosta de biografia, seja para quem gosta de filosofia.
A fórmula? O segredo? “É um dom!”.
Além, obviamente, da imensa popularidade de Chico Livreiro.
Ele é mais conhecido do que o reitor na UNB? “Até porque o reitor passa, e ele permanece”, responde o professor da UNB Antônico Miranda.
Porque o que fica é o desejo de compartilhar com os outros a força da criação humana.
“Você só existe na vida através da leitura, do conhecimento, da saúde e do amor ao próximo. Acho que até o último segundo da minha existência eu vou trabalhar com livro, prestar serviço para as pessoas e para a humanidade”, afirma Chico.
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