Vencedor levará uma guitarra Fender
Gabriel de Sá
Publicação: 10/04/2013 07:59 Atualização: 10/04/2013 09:04
Renato Matos, um dos grandes compositores de Brasília, anima-se para participar do concurso: "Que Deus me dê Fender" |
O que será que faz de Brasília musa inspiradora para tantos poetas e compositores? Há quem diga que é o traço do arquiteto. Outros preferem exaltar o céu — cujo horizonte, “imenso e aberto”, sugere mil direções, como escreveu Fernando Brant. As asas, o concreto, as árvores retorcidas e o Lago Paranoá também estão entre assuntos prediletos dos artistas que se referem à cidade. E se você tivesse a oportunidade de cantar Brasília que aspectos gostaria de enobrecer? No mês em que a capital federal completa 53 anos de idade, no próximo dia 21, o Correio Braziliense convida os leitores a participarem da homenagem. É o concurso cultural Canta, Brasília, que recebe, até amanhã, vídeos com canções autorais que tragam a capital idealizada por Juscelino Kubitschek e sonhada por Dom Bosco em seus versos.
Para se inscrever, é necessário entrar na página www.correiobraziliense.com.br/canta-brasilia e enviar um vídeo de 1 a 4 minutos com a música, além da letra da canção e do nome dos autores. As faixas poderão ser conferidas e votadas pelo público entre 12 e 14 de abril. Os cinco concorrentes com mais cliques estarão na etapa final, na qual uma comissão escolherá a grande vencedora. O primeiro lugar receberá uma guitarra da marca Fender e a gravação da música em estúdio. Além disso, um trecho da canção será veiculado na rádio Clube FM.
Os artistas locais receberam a ideia com satisfação. É o caso do baiano Renato Matos, que vive em Brasília desde 1974 e acredita que há um pouco da cidade em todas as suas músicas, mesmo as que não a citam explicitamente. O compositor é autor da emblemática Um telefone é muito pouco (“Pra quem ama como louco/ E mora no Plano Piloto”), além de Guará 1 e 2 via Eixo, Chorinho do Beirute e Menina do Parque. Esta, em parceria com Luis Turiba, é tida por ele como a “garota de Ipanema” de Brasília.
Quando soube do concurso, Matos logo soltou: “Vou me inscrever”. “Ninguém está muito preocupado em fazer música sobre Brasília, mas, com essa iniciativa, garanto que vai rolar um bocado de hino”, diz. Para o músico, a solidão da capital oferece uma excelente matéria-prima. “No meio do país e distantes de tudo. Isso inspira o que fazer, propõe que você crie, é um ambiente perfeito para inventar.”
O sambista Carlos Elias tem pelos menos três composições sobre a cidade-avião: Isto é Brasília, Declaração de amor e Exaltação a Brasília. Esta, inédita e ainda sem gravação, despertou no músico o desejo de candidatá-la no certame do Correio. “Mas acho que não vai dar tempo”, lamentou. Além de apoiar o projeto, ele sugeriu que, no dia do aniversário da cidade, as rádios públicas deem destaque para a produção local, sobretudo, às canções que tenham a capital como tema.
Capital musical
Está em um disco de 1988 do trio piauiense Clodo, Climério e Clésio: “Não tem juízo/ Tu não tens dono/ Nascente sol/ Tem suas satélites constantes/ Teus inconstantes habitantes / Parece que ninguém nasceu para te habitar.” Em outras canções dos irmãos, a cidade não aparece tão claramente quanto em Brasília, mas a capital certamente se revela em outros trechos das músicas criadas por eles. Para Clodo, o Canta, Brasília pode ajudar Brasília a se firmar culturalmente no cenário nacional.
“Essa dimensão só vai se concretizar à medida que assumirmos que não somos apenas uma cidade, e sim a capital do país”, opina. “O Rio de Janeiro tentava passar isso para o Brasil inteiro. Brasília começa agora e acredito que, daqui a uma década, seremos considerados a capital musical do país. E, nesse contexto, o concurso é muito bem-vindo.” Clodo tem sua música preferida sobre a cidade: Brasília, sinfonia da alvorada, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “Essa ainda me parece imbatível”, considera.
Preferida de Hendrix
O modelo da guitarra Fender que será destinada ao vencedor do concurso ainda não foi escolhido, mas, só de ouvir o nome da marca, os instrumentistas de plantão já crescem os olhos. Pudera. A fabricante, erguida nos anos 1940, nos Estados Unidos, tornou-se conhecida mundialmente ao ter uma de suas criações nas mãos do lendário Jimi Hendrix. Nos anos seguintes, a Fender virou a guitarra preferida de nomes como Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, David Gilmour, Jeff Beck, Mark Knopfler e Muddy Waters.
O brasiliense Kiko Peres, guitarrista do Natiruts, tem uma, no modelo Stratocaster, de madeira, de 1978. “Ela é demais”, conta. “Junto da Gibson, é a guitarra mais tradicional do rock and roll. Renato Matos sempre brinca, dizendo: ‘que Deus me dê Fender’”. Segundo Peres, o instrumento é perfeito para se fazer música de raiz negra, como o funk, o soul e o blues. “Para sons mais limpos, ela é a guitarra. Permite muita expressão e proporciona uma grande gama de timbres e sons”, observa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário