Surpreende a insensatez de iniciativa aprovada pela comissão do Congresso que analisa a medida provisória decorrente de vetos ao Código Florestal. Por 15 votos a 12, a bancada ruralista venceu a queda de braço com os demais parlamentares. Decretou a morte das áreas de proteção nas margens de rios intermitentes.
Intermitente,
vale lembrar, se opõe a perene. São os rios que, durante a seca, desaparecem
temporariamente. Com as chuvas, voltam. Embora a Agência Nacional de Águas não
tenha o número exato, calcula-se que 50% dos rios brasileiros se enquadram em
tais características. Entre eles, Jaguaribe, Paraíba, Capibaribe, Paraguaçu e
Piranhas-Açu.
A
maioria se encontra no Nordeste, região que sofre com os rigores climáticos há
séculos. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, nada menos de 80% dos rios do
Piauí são intermitentes. No Centro-Oeste, para citar um exemplo, convém lembrar
o percentual nada confortável da capital da República —
70%.
Mantida,
a decisão dos ruralistas terá consequências desastrosas. Sem proteção, o rio que
seca parte do ano pode, com o tempo, não voltar mais. Comprometer-se-ão, então,
as bacias hidrográficas brasileiras, alimentadas também por eles.
Comprometer-se-á, no fim da marcha desatinada, o fornecimento de água à
população. É preço muito alto que o Brasil não pode
pagar.
Deixar
que rios vierem pasto, roça ou estrada é ato irresponsável e pouco inteligente.
Não constitui novidade para ninguém a escassez de água doce no planeta, e a
preocupação internacional com os mananciais. O Nordeste, bem antes do alerta
mundial, sofre secas que levaram os moradores a abandonar casa e familiares na
busca da sobrevivência. Este ano, o triste espetáculo se
repete.
O
Brasil cometeu desatinos ambientais ao longo da história. Não o fez só. Nações
dos cinco continentes trilharam o mesmo caminho. Mas vivia-se outra realidade.
Eram tempos em que desmatamento significava progresso, modernidade, civilização.
As enchentes, o desabar de encostas, a destruição de bairros, a morte de
crianças e adultos são respostas da natureza explorada além dos limites
suportáveis.
Com
o avanço da ciência, sabe-se que meio ambiente não é coração de mãe. Os recursos
se esgotam. Ignorar a espada de Dâmocles que ameaça a vida dos rios —
temporários e perenes — é tiro no pé. Atinge, inclusive, a atividade rural, que
necessita de água para continuar a produzir. A quem interessa a
tragédia?
Fonte: Correio Braziliense
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