segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Arrocha, Sarah!


Edmar Oliveira
Esmirradinha, magrelinha como baby no coração do Brasil da música do Melodia. Metro e meio de altura em quarenta e oito quilos. Peso de um bode, diria meu avô, especialista no sacrifício da criação e magarefe do mercado de Palmeirais.

Sarah Menezes saiu do Piauí para ganhar uma medalha de ouro em Londres, segunda medalha feminina para o Brasil na história das Olimpíadas. Primeira feminina do Judô. Não é pouca coisa para nosso ufanismo e deve aumentar a autoestima de um povo rejeitado em seu próprio país. A nossa bandeira de couro de bode tremula no pavilhão da glória. Sarah, cara de palestina com nome de judia é filha do sol do equador. Ela desceu da nave mãe pousando no planeta terra mostrando que os filhos do sertão também têm lugar nessa corrida de visibilidade no mundo da globalização.

E ela não precisou sair do Piauí para chegar aonde chegou. O seu treinador, Expedito Falcão, compôs a equipe de treinadores da COB. A bichinha mora na Piçarra o seu tatame é ali por perto. Prometeu a família e conciliou o esporte com os estudos. Termina agora a faculdade de educação física. E foi no calor de Teresina que aprendeu os golpes de entortar os japoneses. Depois que ganhou o ouro declarou que vai se dedicar a formar novos atletas, entre meninos pobres, no seu espaço em Teresina, o que merece ser destacado tanto quanto a medalha ganhada.

Já tinha nome na praça, por esforço e persistência. Apesar de eliminada nas Olimpíadas do Japão, foi bicampeã de Juniores (2008, Amsterdã; 2009, Paris), no Campeonato Mundial de Judô teve bronze em 2010 (Tókio) e prata em 2011 (Paris). Mas a glória maior aconteceu em Londres.
Imagino uma transmissão da luta na qual ganhou a medalha, derrotando a romena Alina Dimitru, no idioma piauiês:

“Sarah avança, parece um frango querendo ser galo. Uma rudopia em vorta da outra. A miúda empurra a gringa não querendo intimidade, nem mais-mais-mais. Ataca a lourona, que ficou meio desprevenida. Dá uma imprensada “decumforça” no braço da fogoió, que a loura réia quaje desiste. Mas não. Parece que era fuleragem da oxigenada. Volta pra luta. Sarah tá doida pra sapecar um bufete na fuça da curica, mas se contém pra num ser desclassificada. Fica ar duas estudando umas zazoutra. A esmirradinha vai pra cima da loura giganta. Arruma outra chave de braço na fogoió que sentiu o braço réi já estrumbicado. Sarah sapeca um contrapedá. A loura disguia e nossa atleta cai no chão. Mesmo caída, a esmirrada joga as pernas no rumo das cadeiras da lourona e atraca com os cambitos o mucumbu da fogoió. Que qui tu acha Zezim? ‘Isso é só fogoió de água doce, dá um peido, se acabou-se’ – Brigago Zezim, pelos comentários. Sarah continua arrochando. Arrocha e a  loura parece sentir a passarinha.Sentiu a passarinha! Vai se arriando que nem gai réi pôde. A piá acocha uma chave de perna na cunhã, que vem de riba pra baixo encostando o cucuruto no chão.  A fogoió estibucha, faz munganga, mas o nó de pernas da piçarrenta é pra botar a gata pra miá. A foigoió tá pedindo penico. Sarah sem dó nem piedade acocha o buriti. Mesmo de cabeça pra baixo a baixinha aperta mais o mói de vara. A fogoió já tá esverdeada e azeda réia. Nem se bule mais. Arrocha, Sarah! Segura a cunhã! Gãiemos! Gãiemos! Sarah de ouro nos estrangeiros!  O mundo todo de ‘juei’ respeita nóis! O mundo todo se ajueia! O mundo todim: Oropa, França e Bahia!” 

Mas isso é quando não havia ainda a globalização e nós falávamos esta língua. Agora tá tudo globalizado e igualizado. Mas lá no fundo a “rente” ainda grita: Arrocha, Sarah!

Fonte: http://piauinauta.blogspot.com.br/

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