sexta-feira, 27 de julho de 2012

Adeus Brother


                                      Rufam e estrondam os tambores no céu!
        
                                                                      " e no entanto é preciso cantar, mais que nunca é preciso cantar..."
                                                                                                     Vinícius de Moraes

                     Wilson dos Santos Miranda. Wilson Miranda. Ou simplesmente Brother, apelido que se tornou o verdadeiro nome. Nada mais adequado e pertinente, mais justo. Mesmo com seu nacionalismo militante e orgulhoso, de brasileiro que tinha suas idiossincrasias à flor da pele negra contra os colonizadores, fossem portugueses, ingleses ou yankees, seu apelido Brother era absolutamente coerente com  sua personalidade, de irmão, de amigo dos amigos, de figura alegre, simpática, brincalhona,  fraterna, solidária, socialista. É a figura mais emblemática do Carnaval de Brasília, dessa terra seca, do interior, do sertão desse país carnavalesco, do samba, do frevo e do maracatú, mas também da catira, do côco, do xote e do baião. Carnaval que o Pacotão, bloco do qual foi fundador, animou com suas marchinhas iconoclastas, irônicas, debochadas , demolidoras de políticos e governantes corruptos e corruptores. Brother é fundador da Sociedade Armorial Patafísica e Rusticana- O Pacotão, o maior bloco carnavalesco de Brasília, que realiza a festa-evento-cultural mais importante da capital dessa República, mas ré do que pública. O desfile carnavalesco nos domingos e  terça-feiras de Carnaval, desde 1978.
                    
                    O bloco do Pacotão nasceu em 1977, ano do famigerado "Pacote de Abril", decretos editados pela ditadura militar que se instalou no país a partir do primeiro de abril de 1964, que baniu, torturou, matou, cassou, fechou o Congresso e inventou até políticos biônicos, sem votos. Ditadura  que fêz o poeta Vinícius de Moraes referindo-se a ela dizer premonitoriamente: "acabou nosso carnaval,... pelas ruas o que se vê, é uma gente que nem se vê...." O Pacotão teve em Brother, a meu ver, seu mais importante membro fundador, juntamente com Cláudio Lysias e Carlos Gouveia, o Carlão, de saudosa memória, todos eles jornalistas, cariocas e fluminenses. Ele soube aparar as arestas, superar rachas, intrigas, as maledicências e até a acomodação de alguns que assomaram o poder e  deixaram de ser atiradores de pedras para serem vidraças. Mas Brother resistiu, até seu último emprego, até o último carnaval,  sempre no seu PC do B, partido que, infelizmente, lhe negou legenda para disputar um mandato de deputado distrital, onde queria representar os movimentos negro e cultural da cidade. Mas os partidos passam, as ditaduras passam, a vida passa e o Pacotão também passa, na contra-mão da  Avenida W-3,  há 35 anos, e vai continuar passando, mesmo sem nós veteranos, que já estamos infartando, tendo AVC, cirrose e mal de Alzheimer, ou de Parkinson,  porque, gostem ou não gostem, o Pacotão é  " O Papel Higiênico da História".

                    Brother era flamenguista doente, como seu grande amigo Claudio Lysias, e foram os criadores da figura mitológica do presidente vitalício e honorário do Pacotão, o misterioso Charles Preto. Nós, do atual Politiburo do bloco, e o escultor Klebinho, criamos o bonecão do Charles Preto com a fisionomia de Brother ( inspirados no Homem da Meia Noite, do carnaval de Olinda), a quem nomeamos  porta-voz do venerando presidente, embora Brother sempre chegasse atrasado para as entrevistas, aos encontros e saídas do bloco, com sua tranquilidade de filósofo, pensador, compositor e sambista, do Pacotão, do Acadêmicos da Asa Norte, da ARUC e do Salgueiro.

                   Tenho um grande orgulho e uma grande vaidade na vida. Confesso-os publicamente hoje. Embora roxo botafoguense, sou amigo de Brother há quartenta anos. Nos conhecemos na Universidade de Brasília em 1973, quando estudávamos jornalismo. Fizemos greve juntos, combatemos a ditadura militar que submeteu a imprensa à censura. Paradoxo dos paradoxos a atual democracia, o seu Poder Judiciário, o seu Supremo Tribunal Federal rasgou com o diploma de jornalista e limpou o rabo com aquele papel-moeda. Fui  parceiro de Brother na porrinha, fechando os botecos da cidade, e de várias marchinhas e samba-enredos do Pacotão, inclusive o que considero o maior de todos, em que fizemos uma simbiose de duas composições que dizem assim: " O Pacotão vai detonar, toda essa canalha, é o pai, é o filho, é o neto é o avô, e quem prevaricou!..." Rufam e estrondam os tambores no céu! Até breve, parceiro Brother!

                                                                 Paulão de Varadero.   

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