" e no entanto é preciso cantar, mais que nunca é preciso
cantar..."
Vinícius de Moraes
Wilson dos Santos Miranda.
Wilson Miranda. Ou simplesmente Brother, apelido que se tornou o verdadeiro
nome. Nada mais adequado e pertinente, mais justo. Mesmo com seu nacionalismo
militante e orgulhoso, de brasileiro que tinha suas idiossincrasias à flor da
pele negra contra os colonizadores, fossem portugueses, ingleses ou yankees,
seu apelido Brother era absolutamente coerente com sua personalidade, de irmão, de amigo dos
amigos, de figura alegre, simpática, brincalhona, fraterna, solidária, socialista. É a figura
mais emblemática do Carnaval de Brasília, dessa terra seca, do interior, do
sertão desse país carnavalesco, do samba, do frevo e do maracatú, mas também da
catira, do côco, do xote e do baião. Carnaval que o Pacotão, bloco do qual foi
fundador, animou com suas marchinhas iconoclastas, irônicas, debochadas ,
demolidoras de políticos e governantes corruptos e corruptores. Brother é
fundador da Sociedade Armorial Patafísica e Rusticana- O Pacotão, o maior bloco
carnavalesco de Brasília, que realiza a festa-evento-cultural mais importante
da capital dessa República, mas ré do que pública. O desfile carnavalesco nos
domingos e terça-feiras de Carnaval,
desde 1978.
O bloco do Pacotão nasceu
em 1977, ano do famigerado "Pacote de Abril", decretos editados pela
ditadura militar que se instalou no país a partir do primeiro de abril de 1964,
que baniu, torturou, matou, cassou, fechou o Congresso e inventou até políticos
biônicos, sem votos. Ditadura que fêz o
poeta Vinícius de Moraes referindo-se a ela dizer premonitoriamente:
"acabou nosso carnaval,... pelas ruas o que se vê, é uma gente que nem se
vê...." O Pacotão teve em Brother, a meu ver, seu mais importante membro
fundador, juntamente com Cláudio Lysias e Carlos Gouveia, o Carlão, de saudosa
memória, todos eles jornalistas, cariocas e fluminenses. Ele soube aparar as
arestas, superar rachas, intrigas, as maledicências e até a acomodação de
alguns que assomaram o poder e deixaram
de ser atiradores de pedras para serem vidraças. Mas Brother resistiu, até seu
último emprego, até o último carnaval,
sempre no seu PC do B, partido que, infelizmente, lhe negou legenda para
disputar um mandato de deputado distrital, onde queria representar os
movimentos negro e cultural da cidade. Mas os partidos passam, as ditaduras
passam, a vida passa e o Pacotão também passa, na contra-mão da Avenida W-3,
há 35 anos, e vai continuar passando, mesmo sem nós veteranos, que já
estamos infartando, tendo AVC, cirrose e mal de Alzheimer, ou de
Parkinson, porque, gostem ou não gostem,
o Pacotão é " O Papel Higiênico da
História".
Brother era flamenguista
doente, como seu grande amigo Claudio Lysias, e foram os criadores da figura
mitológica do presidente vitalício e honorário do Pacotão, o misterioso Charles
Preto. Nós, do atual Politiburo do bloco, e o escultor Klebinho, criamos o
bonecão do Charles Preto com a fisionomia de Brother ( inspirados no Homem da
Meia Noite, do carnaval de Olinda), a quem nomeamos porta-voz do venerando presidente, embora
Brother sempre chegasse atrasado para as entrevistas, aos encontros e saídas do
bloco, com sua tranquilidade de filósofo, pensador, compositor e sambista, do
Pacotão, do Acadêmicos da Asa Norte, da ARUC e do Salgueiro.
Tenho um grande orgulho e
uma grande vaidade na vida. Confesso-os publicamente hoje. Embora roxo
botafoguense, sou amigo de Brother há quartenta anos. Nos conhecemos na
Universidade de Brasília em 1973, quando estudávamos jornalismo. Fizemos greve
juntos, combatemos a ditadura militar que submeteu a imprensa à censura.
Paradoxo dos paradoxos a atual democracia, o seu Poder Judiciário, o seu
Supremo Tribunal Federal rasgou com o diploma de jornalista e limpou o rabo com
aquele papel-moeda. Fui parceiro de
Brother na porrinha, fechando os botecos da cidade, e de várias marchinhas e
samba-enredos do Pacotão, inclusive o que considero o maior de todos, em que
fizemos uma simbiose de duas composições que dizem assim: " O Pacotão vai
detonar, toda essa canalha, é o pai, é o filho, é o neto é o avô, e quem
prevaricou!..." Rufam e estrondam os tambores no céu! Até breve, parceiro
Brother!
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