terça-feira, 12 de junho de 2012

100 anos de Eu, de Augusto dos Anjos: poesia e problemas

O projeto Arte em Aberto convida 100 anos de Eu, de Augusto dos Anjos: poesia e problemas por Vicente de Paulo Siqueira + Reginaldo Gontijo, com ensaio videofotográfico deste. Afinal, o engenho&arte do anjo magro e torto do Pau-d'Arco, o que faz no projeto que se propõe repensar as vanguardas? Na boca errada do povo, os poemas do filho do C e do NH3 rodopiaram à toda (escarro, vômito, gozo?)! E os modernistas, nada ou quase... até que Cabral exalte sua tinta turva, que escreve negro tudo, a geometria de enterro de seus versos enfileirados... Estamos, cem anos após, mais preparados para entender sua arte assombrosa, arrebatadora?! VPS, no texto abaixo, vincula Augusto à tradição de ruptura (esse belo e imprescindível oxímoro) - leiam-no e estejam no Sebinho - 406 N - no dia 13 de junho, às 19 h. , onde também acontece o quasevídeo (decerto um monstro de escuridão e rutilância) do Gontijo. (Veja também a cara diáfana do vate paraibano, contra serra e várzea, e o toque precioso do Octavio Paz - em anexo.) Os cem anos do "Eu", de Augusto dos Anjos, e a tradição da ruptura no Brasil Podemos pensar em Gregório de Matos, Sousândrade, Augusto dos Anjos e Pedro Kilkerry como os primeiros articuladores de uma tradição da ruptura, em poesia, no Brasil. O que há de comum entre esses poetas e que faz com que sejam agentes nessa ruptura da tradição: negar os modelos e o pensamento de sua época; propor novo olhar, novo sangue; romper com o que se continuava, atuar como atores/autores da transgressão, com proposições estéticas, atitudes ou abordagens políticas e/ou filosóficas que reinauguram o novo e apontam futuros na linguagem e na vida. No centenário do livro único de Augusto dos Anjos, "Eu", que veio a lume em 06 de junho de 1912, paramos para (re)pensar sobre o significado e os ecos atuais de sua poesia. No ambiente artificial do Parnasianismo/Simbolismo, em que o mais "justo" em literatura era a expressão do "sorriso da sociedade", e em meio às mais severas adversidades, surge a poesia de Augusto dos Anjos, versos marcados pela tragédia, pela reversão do evolucionismo de Haeckel e Spencer aos termos de um contrassimbolismo, uma antilírica, que nega a nebulosidade e o artificialismo, que reverte, ironiza, destrona a poesia. O "operário da ruínas" é também o eu lírico do poeta, a reconstruir verso a verso a sensibilidade decadente de nossa belle èpoque. O "verme" era a poética de Augusto, a viver da linguagem que decompunha; a fazer do verso decassílabo, do paradoxo, as ferramentas para a expressão de mundos em convulsão; a articular entre as palavras efeitos de cruel beleza, em lances explosivos que estremeciam e reativavam nossa tradição em poesia, pensando em outros termos a vida, a dor, o amor, a morte; não deixando passar em branco nem a imagem tão sagrada, naqueles tempos, do poeta, "Feto malsão, criado com os sucos / De um leite mau, carnívoro asqueroso, / Gerado no atavismo monstruoso / Da alma desordenada dos malucos". VICENTE PAULO SIQUEIRA: Poeta, contista, ensaísta, perfomer e arte-educador. Autor dos livros O Tao da Coisa (poemas, 1995), Lâmina (contos, 2004) e Abecedário (poemas visuais, 2009). Escreve, atualmente, roteiro de filme sobre Augusto dos Anjos. REGINALDO GONTIJO: Vídeo-cineasta, prosador experimental (Cituma ou O movimento da matéria, 1995) e poeta digital (DVD Infininho). Dirigiu, com Luiz Fernando Suffiati, o vídeo (de curta-metragem) Tristão e Isolda (c. 1988) e o videofilme (longa) O Mar de Mário (1988-2010), estrelado pelo cineasta Mário Peixoto. Estão concluindo longa-metragem sobre o pensador Eudoro de Sousa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Links
Translate