quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Oito autores lançam livros na primeira edição do Sarau Chatô nesta quarta


Além de advogado, escritor, político e mentor do maior império de comunicação que o país já teve, o jornalista Assis Chateaubriand manteve uma profunda ligação com a arte. “Ele era um homem de cultura. Um exemplo disso é a criação do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, hoje um dos grandes museus do mundo”, afirma Márcio Cotrim, escritor e diretor da Fundação Assis Chateaubriand. Para manter vivo o pendor artístico desse visionário, a fundação organizou 12 saraus mensais, promovendo a literatura, a pintura, a música e o cinema feitos por (e sobre) artistas de Brasília.   
“Esta edição dará ênfase à produção literária”, avisa Cotrim, que escalou um time de autores da cidade para uma roda de autógrafos e um bate-papo. Ele mesmo lançará seu novo livro, O pulo do gato 4 (Geração Editorial), sobre a origem das palavras e expressões idiomáticas. Roldão Simas Filho, por sua vez, falará de seu Dicionário lá e cá, com o significado de 5.800 verbetes aqui e em Portugal, e Dad Squarisi autografará o Manual de redação e estilo para mídias convergentes (leia texto abaixo).
 Já a atriz Maria Paula virá com Liberdade crônica, uma compilação de textos que publica semanalmente no Correio, desde 2005. E o coronel Affonso Heliodoro lançará JK: de Diamantina ao memorial, em que avança em pontos cruciais da história do ex-presidente. Adirson Vasconcelos, Anderson Braga Horta, Judivan J. Vieira e Santiago Naud também participarão do mutirão literário.               
Cotrim lança O pulo do gato 4, sobre a origem das palavras
 Em cada sarau, um país e um estado brasileiro serão homenageados. Na noite inaugural, os escolhidos foram a República Tcheca e a Paraíba. Não por acaso, o país da Europa Central abre a programação por ser terra do avô de Juscelino Kubitschek, Jan Kubitschek. O embaixador Ivan Jancárek contará um pouco sobre as tradições do país, enquanto cervejas pilsen, originais da região da Boêmia, serão servidas no Bar do Chatô. Um curta-metragem sobre a construção de Brasília (uma produção tcheca, legendada em português) também será exibido.

A Paraíba será a primeira unidade da Federação a ganhar o tributo por ser terra de um filho ilustre: Chatô nasceu em Umbuzeiro, no semiárido brasileiro. Para acompanhar as cervejas tchecas, a chef Rose Borella, da butique de carnes Ready Beef, servirá petiscos típicos da culinária local, à base de queijo coalho, tapiocas e rapaduras, por exemplo. Especialista em heráldica (estudo de brasões e escudos) falará sobre a origem da bandeira do estado, que ostenta a palavra Nego. Dançarinos de forró também farão demonstração de alguns passos. E repentistas da Casa do Cantador — Valdenor, Zé do Cerrado e Chico de Assis — mostrarão seus improvisos à plateia.

Números musicais, aliás, pontuarão as diversas participações. O coral de 40 vozes, mantido pela fundação, apresentará músicas natalinas. E a noite prosseguirá com Reco do Bandolim, presidente do Clube do Choro de Brasília, e alguns músicos da instituição. O encerramento ficará por conta de Raimundo Moura, um dos mais conhecidos seresteiros da cidade.

Enfim, escritora
A atriz Maria Paula fará o lançamento de seu primeiro livro, Liberdade crônica, reunião de textos publicados em sua coluna semanal no Correio Braziliense. “Sempre guardei essa vontade de ser escritora dentro de mim. Era até uma lenda familiar”, conta a ex-integrante da trupe Casseta & Planeta, cujo talento com as palavras foi alvo de profecia. Durante a infância em Uberaba, o médium Chico Xavier a viu e disse que ela seria famosa, dando muita alegria ao Brasil. A mãe da atriz teve uma intuição: Maria Paula seria escritora. Com a agenda de gravações sempre cheia, ela adiou o projeto por muito tempo. Além dos cadernos que preenchia com poemas e contos, aceitou o desafio de escrever a coluna para o jornal. Até que o humorístico saiu do ar, depois de 17 anos. “Senti que era a minha deixa. Foi um ano de trabalho árduo”, relata. Dividido em três eixos temáticos — atitude caráter, atitude afeto e mulher de atitude —, o livro passeia por temas que vão desde as mudanças sociais enfrentadas por mulheres até o consumo, passando por problemas de natureza política, como a corrupção.
Novas histórias de JK
Diamantinense, vizinho de JK e aluno da mãe do ex-presidente, Affonso Heliodoro nutriu amizade longa com o criador de Brasília. Essa cumplicidade rendeu histórias que inspiram quase toda a obra literária de Heliodoro. A novidade é JK: de Diamantina ao memorial, que repassa a vida de Juscelino do nascimento à morte, avançando em alguns pontos obscuros. “Conto passagens do golpe militar, acuso (o ex-presidente) Castello Branco de traição, revelo coisas inéditas, que se passaram na minha presença”, afirma o autor.
O projeto inicial era produzir um volume didático, para reavivar nas escolas a trajetória de JK, mas Heliodoro acredita que o livro tenha ficado “pesado” para essa função. “Provocado, você começa a se lembrar, a escrever, e se revolta de novo”, pondera. O livro sai do forno da editora diretamente para o lançamento no sarau.

Inspiração no cerrado

Interatividade sempre foi o negócio do pintor pernambucano André Cerino. No começo, ele filmava o processo de feitura de seus quadros e compartilhava no YouTube e nas redes sociais. “Desde criança, tinha curiosidade de saber como os artistas criam, sempre via a arte pronta. Nas galerias e nos livros, a criação se apaga com o tempo, pertence exclusivamente ao artista. Decidi compartilhar isso”, conta. Hoje, a ideia se refinou e ele faz performances de pintura ao vivo, embalado por música (geralmente clássica), que o inspira a orquestrar as cores na tela. Em vez de pincel, Cerino usa as pontas dos dedos. Hoje, este autodidata das artes que vive em Brasília há 27 anos fará uma de suas demonstrações no sarau. O tema será definido na hora, mas suas inspirações vêm do cerrado. “Penso em pássaros, flores, no céu, na água, nas queimadas, na preservação. Não sou ambientalista, apenas me preocupo com o meio em que vivo. Vim para o cerrado e me encantei com a beleza das folhas, que muita gente crê estarem mortas. Sempre vi vida nisso tudo.”




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