Voando pela noite é um livro de contos. Os contos, apesar de
independentes e diferentes, apresentam pontos em comum:
abordam a juventude das
décadas de 80 e 90, falam da
descoberta da liberdade, da independência, da
sexualidade
e dos prazeres da vida. O interessante é que as diversas
situações
colocadas pelo escritor acontecem em um
período em que a internet e as
facilidades de comunicação
não existiam. Nos contos, as pessoas se comunicavam
por
telefones fixos, por encontros aleatórios nas ruas e, algumas
vezes, por
coincidência do destino.
Com situações inusitadas e diálogos bem construídos
as
histórias criadas por André Giusti nos conduzem a uma
realidade diferente da
que vivemos hoje, mas ao mesmo
tempo comprovam que os jovens serão sempre
iguais:
repletos de sonhos, de expectativas e de desejos.
Independente do
tempo, a intenção é vencer barreiras,
conhecer o desconhecido e se relacionar.
Um ponto central abordado nos contos é a questão da
sexualidade. O escritor narra muito bem a descoberta do
prazer e a visão dos
homens sobre o sexo e sobre as
mulheres. Algumas cenas possuem descrições bem
intensas
e diretas, no entanto ele consegue manter a medida e em
nenhum momento
a narrativa se torna vulgar ou cansativa.
Entre os diversos contos do livro, "Fonedrama"
aborda
questões peculiares e merece destaque.
Nele, o
personagem principal recebe uma ligação por engano e esta
ligação lhe coloca em uma situação inimaginável. Ele se
envolve com a mulher,
Vanessa, que era casada. O texto
aborda a questão do desejo, da traição, da
honra,
do psíquico e da moral.
DESTAQUES:
- A narrativa é em terceira pessoa e o narrador nunca apresenta
o personagem
principal. Todas as referências são por meio
do termo "ele". No
entanto, os demais personagens são
apresentados e individualizados.
- Ao longo de cada conto o escritor faz inúmeras referências a
- Ao longo de cada conto o escritor faz inúmeras referências a
livros e
cantores. Posso destacar a menção ao livro A Insustentável
Leveza do Ser e ao
grande poeta Paulo Leminsky. Também
existem referências a Raul Seixas, Roberto
Carlos, Erasmo Carlos etc.
PASSAGENS:
"Agora cada coisa ficaria definitivamente em seu lugar, como Alice
PASSAGENS:
"Agora cada coisa ficaria definitivamente em seu lugar, como Alice
sempre
gostou, como ele sempre gostou também. Cada coisa para
sempre no lugar, como os
dois sempre gostaram, em 60 anos de
casamento. O pó dos anos se encarregaria de
remover cada objeto,
cada estante e cada poltrona. Mas isso seria daqui a muito
tempo,
tanto tempo, que o próprio relógio da sala já estaria parado, como
nunca
esteve em seis décadas".
"Ele pensava que o pior de reviver o passado era encontrar a
"Ele pensava que o pior de reviver o passado era encontrar a
mesma antiga
pessoa num presente tão diferente, tão distante dele.
Era a sensação de pular
100 páginas num livro bastante
volumoso, 100 páginas onde a história se
transformou, mudou de lugar
e o papel principal já não cabe mais a esse ou
àquele personagem".
"Aproximei meu rosto do seu. Antes de beijá-la, porém, achei mais
"Aproximei meu rosto do seu. Antes de beijá-la, porém, achei mais
gostoso
sentir sua respiração fervendo nos meus lábios".
"Devolvi o poema a ela com um riso amarelo. Perguntei se já poderíamos
"Devolvi o poema a ela com um riso amarelo. Perguntei se já poderíamos
ir.
Adiantei o vídeo até o presente. Eu queria apertar play-rec e começar
a gravar
dali".
"Eu sentia uma raiva estúpida de ser drogado, de ser alcoólatra. Senti raiva
"Eu sentia uma raiva estúpida de ser drogado, de ser alcoólatra. Senti raiva
de não ter conseguido a ereção e odiava Ângela Sauer. E quanto mais
raiva, mais velocidade."
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