quinta-feira, 17 de outubro de 2013

VOANDO PELA NOITE, DE ANDRÉ GIUSTI

Voando pela noite é um livro de contos. Os contos, apesar de
 independentes e diferentes, apresentam pontos em comum:
 abordam a juventude das décadas de 80 e 90, falam da 
descoberta da liberdade, da independência, da sexualidade
 e dos prazeres da vida. O interessante é que as diversas
 situações colocadas pelo escritor acontecem em um 
período em que a internet e as facilidades de comunicação
 não existiam. Nos contos, as pessoas se comunicavam por
 telefones fixos, por encontros aleatórios nas ruas e, algumas
 vezes, por coincidência do destino.
Com situações inusitadas e diálogos bem construídos 
as histórias criadas por André Giusti nos conduzem a uma
 realidade diferente da que vivemos hoje, mas ao mesmo 
tempo comprovam que os jovens serão sempre iguais: 
repletos de sonhos, de expectativas e de desejos. 
Independente do tempo, a intenção é vencer barreiras,
 conhecer o desconhecido e se relacionar.
Um ponto central abordado nos contos é a questão da
 sexualidade. O escritor narra muito bem a descoberta do 
prazer e a visão dos homens sobre o sexo e sobre as
 mulheres. Algumas cenas possuem descrições bem intensas 
e diretas, no entanto ele consegue manter a medida e em
 nenhum momento a narrativa se torna vulgar ou cansativa.

Entre os diversos contos do livro, "Fonedrama" aborda
 questões peculiares e merece destaque.  Nele, o 
personagem principal recebe uma ligação por engano e esta
 ligação lhe coloca em uma situação inimaginável. Ele se
 envolve com a mulher, Vanessa, que era casada. O texto 
aborda a questão do desejo, da traição, da honra, 
do psíquico e da moral.

DESTAQUES:

- A narrativa é em terceira pessoa e o narrador nunca apresenta
 o personagem principal. Todas as referências são por meio
 do termo "ele". No entanto, os demais personagens são 
apresentados e individualizados.

- Ao longo de cada conto o escritor faz inúmeras referências a 
livros e cantores. Posso destacar a menção ao livro A Insustentável 
Leveza do Ser e ao grande poeta Paulo Leminsky. Também 
existem referências a Raul Seixas, Roberto Carlos, Erasmo Carlos etc.

PASSAGENS:

"Agora cada coisa ficaria definitivamente em seu lugar, como Alice 
sempre gostou, como ele sempre gostou também. Cada coisa para
 sempre no lugar, como os dois sempre gostaram, em 60 anos de 
casamento. O pó dos anos se encarregaria de remover cada objeto, 
cada estante e cada poltrona. Mas isso seria daqui a muito tempo, 
tanto tempo, que o próprio relógio da sala já estaria parado, como
 nunca esteve em seis décadas".

"Ele pensava que o pior de reviver o passado era encontrar a 
mesma antiga pessoa num presente tão diferente, tão distante dele.
 Era a sensação de pular 100 páginas num livro bastante 
volumoso, 100 páginas onde a história se transformou, mudou de lugar 
e o papel principal já não cabe mais a esse ou àquele personagem".

"Aproximei meu rosto do seu. Antes de beijá-la, porém, achei mais
 gostoso sentir sua respiração fervendo nos meus lábios".

"Devolvi o poema a ela com um riso amarelo. Perguntei se já poderíamos
 ir. Adiantei o vídeo até o presente. Eu queria apertar play-rec e começar
 a gravar dali".

"Eu sentia uma raiva estúpida de ser drogado, de ser alcoólatra. Senti raiva
 de não ter conseguido a ereção e odiava Ângela Sauer. E quanto mais
 raiva, mais velocidade." 

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