segunda-feira, 14 de março de 2011
Escritores brasilienses e espanhóis realizam encontro aberto ao público
14/03/2011
Foto: Nicolas Behr: “Só sentimento não basta para fazer poesia”
Nahima Maciel
A poesia visual pode ter cara de objeto, performance e até uma arte gráfica ou animação. Ou pode apenas evocar imagens por meio de metáforas e combinações de palavras. Para confeccioná-la vale lançar mão de todos os recursos disponíveis, inclusive, e principalmente, os tecnológicos. O importante é não perder a postura poética, experimentar a linguagem, investigar as possibilidades estéticas da palavra. O formato não é novo — os concretistas brasileiros usaram e abusaram dos recursos nos anos 1950 — mas ainda rende boas experiências e é para falar sobre elas e conhecê-las que o espanhol Alfonso Hernandez organizou o encontro Poesia para se ver, que tem início hoje no Instituto Cervantes.
Até quinta-feira, poetas de Brasília e da Espanha realizam palestras, oficinas e leituras com foco na produção do poema visual. “Poesia para ver seria uma poesia feita com imagens poéticas através de palavras”, define Hernandez. A primeira palestra será dedicada a investigar os rumos da poesia contemporânea espanhola, que, segundo o organizador, tem características urbanas muito marcantes. “É feita por um poeta que sai de si mesmo pela janela para falar do que está acontecendo pelo mundo”, descreve. “O poeta observa a sociedade. Podemos falar de um poeta observador. É uma poesia que está em espaços urbanos e o poeta se mistura com esse espaço.” Ele enxerga a mesma marca na produção brasiliense e acredita que a configuração do espaço urbano da capital influencia diretamente os poetas. Além do espanhol, o debate de hoje reúne Angélica Torres, Fred Maia, Marcos Freitas, Alicia Silvestre, Antonio Miranda e Nicolas Behr, todos convidados para ministrar oficinas e palestras durante o evento.
Hernandez mora em Brasília há três anos e meio e é professor do Instituto Cervantes, mas foi em Coimbra, onde morou durante um ano, que concebeu o primeiro livro. El crucero, cujo lançamento acontece hoje, tem edição bilíngue em espanhol e português e foi idealizado durante um período de imersão no universo da lusofonia. “Me atraía muito a cultura portuguesa, que para mim era desconhecida. Apesar de ser perto, não é comum os espanhóis conhecerem a cultura portuguesa.” El crucero é uma antologia da produção de Hernandez desde os 14 anos até a etapa que considera “madura”, iniciada durante os estudos de filologia na Universidade de Granada.
Antonio Miranda, convidado do encontro e diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, vê na poesia contemporânea forte tendência para a visualidade. Recursos tecnológicos e ferramentas digitais aparecem como instrumentos frequentes. No link Poesia Visual, no próprio site, Miranda lista 296 autores que investiram no gênero. Alguns são velhos conhecidos dos leitores, como Paul Élouard, André Breton, Augusto e Haroldo de Campos e até Lewis Carrol, outros são mais presentes no universo musical, caso de Caetano Veloso e Gilberto Gil, ou têm nomes pouco associados à poesia, como o artista plástico goiano Siron Franco e o pintor francês Henri Matisse, mas todos, um belo dia, resolveram experimentar as possibilidades plásticas dos versos.
“A poesia escrita também traz imagens, mas são imagens visuais. Quando falo em poesia visual penso mais na poesia que se transforma em objeto. É um paradigma que no Brasil tomou impulso com os concretistas e que hoje chega a formas como a intervenção urbana e as performances poéticas”, diz Miranda. “A poesia está buscando novas formas de expressão.”
Durante as oficinas de Poesia para ver, ele quer abordas as formas visuais de conceber versos. Já Nicolas Behr, outro convidado, acredita ser possível nortear os participantes no exercício da linguagem poética. “As pessoas investem muito no sentimental e pouco na linguagem. Só sentimento não basta para fazer poesia, tem que ter experimentação estética, senão vira uma carta para a namorada”, avisa Behr, que divide com Alicia Silvestre a responsabilidade da oficina Mistérios poéticos.
http://divirta-se.correioweb.com.br/materias.htm?materia=12559&secao=Programe-se&data=20110314
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